sábado, 22 de maio de 2010

Pausa

Aos que leem este blog, peço licença para interromper a série de histórias sobre personagens importantes em minha vida.
Havia premência na tessitura e postagem deste texto. Ele representa um divisor de águas para mim. Interpretem-no como catártico e terapêutico.

Obrigada.

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Quando escrevemos com tinta em um pedaço de papel, jamais conseguimos remover o que ali ficou gravado. É assim que nos vejo hoje. Foi dessa forma que fui levada a compreender nossa relação.
Você não me deixou escolha. Eu saía ou saía de sua vida, e eu saí. Saí para NUNCA mais voltar, simplesmente por que meu coração se exauriu. Perdeu as forças, perdeu a capacidade de te perdoar, perdeu a motivação para continuar a te amar.
Popularmente, ouvimos dizer que o amor jamais termina, porém, posso agora questionar essa “máxima” tão propagada, quase um lugar-comum.
Creio que as intensidades do que sentimos sofrem drásticas e inevitáveis variações. Nossas emoções assemelham-se a um pedaço de terra, que depois de algum tempo deixa de produzir devido a infertilidade. Infertilidade essa causada pelo excesso de plantações ininterruptas.
Muitos chutes, muitas agressões, muitas dores ocorridas de maneira freqüente, fazem com que percamos o "élan" necessário para continuar na luta pelo amor. O ser amado transforma-se em tirano e sua beleza, outrora motivo de nossa fascinação, não só desaparece como dá lugar à frustração incontornável.
Você tomou esta feição para mim. Falo do agora, porque não posso afirmar nada pelo amanhã, mas sondo ser impossível fazer com que as coisas voltem aos lugares em que se encontravam quando nos apaixonamos. Digo isso, pois eu sou OUTRA e você provavelmente também o seja. Suas mudanças personalísticas foram mais rápidas que as minhas. Elas precipitaram o "início do nosso fim". Meu carinho e minha ternura ainda se mantiveram durante longo tempo, contudo, suas silenciosas grosserias, foram executando uma a uma minhas reminiscências amorosas. Acho que não sobrou mais nada. Pelo menos é o que penso, uma vez que não consigo enxergar nenhum resquício de afeição por você dentro de mim.
Nenhum personagem, nenhuma mensagem subliminar nem qualquer tipo de embuste, trarão novamente quem eu FUI para você. Lamento se depois de acalmada a tempestade, você tenha remorso do que fez e tente reconstruir o que destruiu. Pouco provável será que você readquira o que jogou fora. Você jogou fora deliberadamente e conscientemente. Certas atitudes que tomamos são para o resto de nossas vidas. A sua foi o FIM.
Atualmente, estou em paz comigo. As lágrimas cessaram, e já não lembro mais do que você me fez a cada instante. Quando sua imagem me vem à mente, meu coração não mais dispara. Aos poucos, as recordações que guardava vão se transformando em uma enorme nebulosa.
Meu conselho é o de que esqueça. Junte seus resquícios e mova-os em outra direção. Utilize sua energia em outros projetos, pois lutar por uma batalha perdida é doloroso e patético.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Flávio

Eu recém saíra da adolescência. Ele, porém, já contava com idade avançada. Tinha na época 72 anos. Um advogado respeitado, brilhante professor universitário, senhor de ampla e considerável experiência de vida. Soberano na arte das palavras e de como articulá-las de modo a conquistar nossos corações de leitores.
Mas, o que de certa forma me atraía àquele veterano ser-humano, não era fácil de explicar por meio de frases sintaticamente bem construídas.
Depois de algum tempo, percebi que o catedrático passava longos minutos da aula de Literatura Portuguesa tão somente a me observar. A princípio não dei muita atenção, contudo, como persistissem os olhares, passei a observá-lo também.
Suas aulas com frequencia seguiam praticamente o mesmo “script”. Ele começava indagando sobre as leituras previamente solicitadas, depois pedia que fizéssemos uma apreciação crítica das obras lidas para que na próxima aula estabelecêssemos um debate baseado nos posicionamentos apresentados. Feito isso, sentava-se e punha-se a me fitar.
E assim permanecemos durante aproximadamente um semestre inteiro de faculdade. De minha parte, a motivação essencial era a curiosidade por descobrir o que levava aquele homem a ficar como que hipnotizado em meus movimentos durante tanto tempo. Todavia, após nos conhecermos melhor, descobri que seu interesse não era somente uma questão de deleite estético. Ele me relatara que algo em meu comportamento, o movia a de alguma maneira como que “desvendar-me”, e junto com essa curiosidade adveio o amor.
Creio que eu também tenha passado da investigação ao sentimento sublime sem dar por mim. Após algum tempo, começamos a conversar. Eu me revelei uma aluna dedicada e portadora de idéias singulares, segundo aquilo que o professor Flávio me contou. E assim foi que tudo aconteceu.
Passei a encontrar uma beleza diferente escondida por detrás daquelas rugas. Seus olhos tinham uma força atrativa muito diferente de tudo o que eu já havia experimentado através de minha parca experiência de flertes juvenis.
Devo dizer que foram nossos olhos que se amaram primeiro. Foram eles que tomaram a iniciativa de nos aproximar e por intermédio dos mesmos eu enxerguei uma realidade completamente nova que se insurgiu dentro de mim.
Tudo o que se seguiu tornou-se MENOR, pois nosso sentido visual tinha adquirido e aberto sentimentalmente, uma janela grande demais, que se alargava e “defenestrava” preconceitos tão comuns em nossa sociedade, como diferenças sociais, de classe e etárias.
O professor Flávio se foi, mas seus olhos permanecem comigo. Ajudam-me não somente a ver, como também a interpretar pessoas e sentimentos.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Meu renascer com Renato

Quando o conheci, logo de cara achei que fosse mais um chato-inconveniente. Ele insistia em se aproximar de mim e ficava observando todos os meus cacoetes para depois imitá-los. Afff! Como eu o detestava!
Porém, fruto dessas ocorrências inexplicáveis em nossas vidas, mais tarde descobri quem ele era intimamente e dele gostei de forma singular, sem nenhuma sombra de dúvida.
Renato era um rapaz de baixa estatura, cabelos louros, olhos azuis, possuidor de um largo e contagiante sorriso. Pouquíssimas vezes o vi triste, e reparem que ele tinha muitas razões para isso...Contudo, seu bom-humor sobrepujava suas adversidades. Animação era uma de suas características preponderantes. Como antes relatei, no princípio de nosso relacionamento ele me irritava bastante, exatamente pelo mesmo motivo que me levou posteriormente a amá-lo. Todos os dias ele me inquiria: “E aí, Maria! Como você tá?”.
Aquilo para mim por si só já representava uma provocação, pois eu detestava ser chamada de Maria e ele sabia muito bem disso, mas o fazia pelo simples prazer de me provocar, me tirar do sério. E conseguia.
Na maior parte do tempo, eu sequer respondia as suas perguntas, fazia questão de ignorá-lo solenemente. Entretanto, Renato era incansável. Não adiantava fazer cara de desprezo, nojo, ou qualquer outra expressão facial. Quem ignorava nesse caso era ele.
Certa feita, nossa professora de História solicitou que fizéssemos uma pesquisa sobre a Guerra Civil Norte-Americana. O prazo para entrega do trabalho era de duas semanas, todavia, como comumente eu agia, deixei a realização de tal tarefa para o penúltimo dia anterior à data de entrega.
Estava eu em casa em uma bela tarde outonal. Como uma típica adolescente de classe média, escutava música no meu walkman (isso era moderno na época) e assistia à Sessão da Tarde, quando de repente me lembrei: O Trabalho de História! É para amanhã! Merda!!!!! Pensei comigo. Troquei de roupa rapidamente e saí correndo para a biblioteca da escola onde estudava, que para minha sorte ficava próxima à minha casa.
Chegando lá, me dirigi à bibliotecária e pedi auxílio para encontrar livros que abordassem tal assunto. Ela me olhou com um ar de tédio e respondeu: “O único livro que temos para pesquisar este tema está com aquele garoto”, indicando-me quem???? Ele mesmo, Renato – O chato. Quando dei com os olhos nele, a única coisa que percebi foi aquele sorriso irônico e debochado como a me dizer – “Vai ter de fazer comigo!”.
“Mas que droga!”, pensei. Não havia outra saída. Fui me sentar ao seu lado. Perguntei se poderia utilizar o livro, ao que ele prontamente me respondeu que sim.
Comecei a folhear as páginas maldizendo-me por aquela situação. Ele então se pôs a conversar.
Primeiro perguntou por que eu não tinha feito a pesquisa antes, numa clara tentativa de me amofinar. Depois, subitamente mudou de assunto, adquiriu um ar compenetrado e me indagou: “Maria, por que você fica brava por qualquer coisa?”. Por que leva tudo tão a sério?”.
Eu fiquei sem graça, pois não esperava nem aquela pergunta e nem tão pouco aquele rosto tão profundamente inquiridor a me observar. Na hora não soube o que responder. Fiquei sem ter o que dizer, e foi então que alguma coisa modificou-se em meu íntimo, instantaneamente. Senti um arrepio gostoso perpassar meu corpo quando aquele olhar sobre mim pousou. Parecia que ele via o que estava acontecendo em meu interior, pois sem desviar seu olhar um só instante, sorriu e acarinhou meu braço dizendo: “Vamos continuar o trabalho”.
Pronto! Eu estava apaixonada! Devo admitir que comigo, as questões amorosas sempre se deram de maneira abrupta. Minha vida foi pontuada por paixões fulminantes!
Terminamos a pesquisa e iniciamos nossa história de amor ali, naquela mesinha de biblioteca em uma tarde como outra qualquer.
Nada de surpreendente, nada diferente das demais tantas histórias que ouvimos por aí. Apenas dois adolescentes atingidos em cheio pela paixão e com seus hormônios funcionando a mil por hora.
Posso afirmar que Renato era no mínimo sui generis. Com ele fiz coisas absurdas e vivi grandes aventuras. Seus parâmetros éticos e morais eram discutíveis (risos).
Ele me levou a praticar pequenos furtos como roubo de bolachas recheadas no supermercado, por exemplo. Em sua companhia, inúmeras vezes fiquei de pileque e o que aprontamos nessas ocasiões é quase inconfessável.
Saíamos nos finais de semana, íamos passear em museus só para poder debochar das pessoas que lá se encontravam com suas faces solenes e taciturnas. Nos parquinhos de diversão, nossa maior aventura era causar o pânico no público de uma forma geral. Nós nos balançávamos freneticamente nas hastes da roda-gigante, apenas para poder rir do medo alheio. Vomitávamos na rua por efeito dos porres que tomávamos. Era muita zoação.
Renato me fez rir da vida e de mim mesma. Esse foi o maior presente que ele me deu. Praticamente um legado, eu diria. Carrego suas lições comigo até hoje. Ensinou-me a encarar fatos decisivos, enxergando em tudo e todo tempo, a possibilidade do riso.
O tempo passou e nosso amor juvenil também. Sinto saudades, mas sei que esse sentimento foi apenas uma experiência, um acontecimento transitório. Espécie de preparação para os amores que surgiram depois.
Muito rico foi o aprendizado que tive de meu relacionamento com Renato. O amor tem múltiplas fases e faces!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Pessoas e Personificações

A partir do texto abaixo, pretendo fazer digressões sobre pessoas que passaram por minha vida, o que elas significaram (personificaram), e o sentido que para mim adquiriram. Os nomes adotados serão fictícios, para que nenhuma celeuma ou desconforto possa vir a ocorrer. Tal medida, também visa à preservação da integridade de cada um.


Aquela menina, o começo de minha dor!

Lembro-me exatamente do dia que conheci Lívia. Eu contava naquela ocasião sete anos e era meu primeiro dia de aula na primeira série do que então chamávamos à época de Primeiro Grau.
Cheguei atrasada, pois minha mãe havia se atrapalhado com os afazeres domésticos, posto que ainda se encontrasse em ritmo de férias. Não havia mais lugares vagos. A turma era enorme e deveriam existir aproximadamente cinqüenta crianças naquela classe. Buscaram para mim uma mesa e uma carteira em uma sala contígua. Acomodaram-me logo na primeira fileira, bem na pontinha.
Em seguida virei para o lado e dei com os olhos nela. Achei feia. Usava trancinhas em todo o cabelo, tinha orelhas de abano e bochechas avantajadas. Dona de uma magreza exasperadora (mas essa era igualmente uma de minhas características). Reparei que Lívia era também muito pobre. Seu material escolar denotava humildade, uma caixa de lápis-de-cor pequena, uma pastinha de plástico cor –de- rosa e alguns poucos giz- de- cera dentro de um estojinho de madeira precário.
A escola em que estudava era particular, e a maioria das crianças dispunha de grande quantidade de materiais como canetinhas hidrocor, lapiserias, mochilas vistosas e coloridas e etc. Por tais razões, causava estranhamento que algumas crianças não possuíssem o que era quase “comum” a todos.
Passei alguns minutos observando o que Lívia fazia. Ela era popular, conversava e copiava a lição ao mesmo tempo. Notei que todas as meninas a escutavam com máxima atenção.
Os dias foram passando e eu fui conhecendo mais detalhadamente aquela que se tornaria a algoz de meu destino. A pessoa que mais importância teve em minha personalidade e meu jeito de ser até os dias de hoje! Mais influente e preponderante que meus pais, sem que com esta afirmação haja qualquer exagero de minha parte.
Lívia era extremamente inteligente e bem articulada. Aprendia todas as lições como num passe de mágica. Quando um exemplo de bom aluno era dado, lá estava a referência honrosa , explícita e permanente a ELA! Todos os meus colegas, fossem eles meninos ou meninas, “gravitavam em seu eixo”! Todos queriam juntar seu lápis, sentar ao seu lado, fazer fila atrás ou em frente dela.
Eu fui observando tudo aquilo e ficando muitíssimo curiosa. Queria saber o que aquela menina possuía de tão especial. Até que um dia, seu fascínio me atingiu.
Havíamos terminado a lição de cópia. Sobrando algum tempo para o término da aula, a professora distribuiu um desenho em que devíamos colorir livremente uma figura. Acontece que eu só levava meus lápis –de-cor para a classe quando tínhamos aulas de Artes Aplicadas. Fora desses dias, minha mãe não me permitia carregá-los, pois minha mochila ficava exageradamente pesada. Eu não dispunha de material necessário para realizar a tarefa, então pedi à colega que sentava ao meu lado, que me emprestasse um de seus lápis. Ela virou-se para mim e com ar de desprezo disse: “Eu não empresto nenhum material meu!”.
Fiquei com vergonha, e já estava desistindo de colorir a figura quando Lívia presenciando o ocorrido, disse à colega que havia me negado o lápis: “Como você é egoísta! Sabia que pessoas egoístas ficam pra sempre sozinhas?!”. Dizendo isso prontamente me ofereceu seus parcos e desgastados lápis de cor.
Tal gesto causou-me profunda impressão e a partir daquele dia e daquele momento, tornamo-nos amigas. Éramos inseparáveis. Éramos ótimas alunas, tínhamos os melhores desempenhos. Entretanto, Lívia era mais popular e suas notas eram décimos maiores que as minhas. Mas ainda assim brilhávamos como as “estrelinhas da turma”.
Lembro-me que meu desempenho escolar era motivo de tanto orgulho, que meu pai quando recebia meu boletim, pegava-me no colo e literalmente “atirava-me” inúmeras vezes para cima, em sinal de fragorosa felicidade.
Um ano depois, já na segunda série do Primeiro Grau, logo no primeiro dia lá estávamos nós. Sempre juntas.
Tudo corria bem, todavia, tornei-me uma menina bastante rebelde. Com o tempo, comecei a achar as atividades propostas pela professora um tanto idiotas. Não queria mais fazer meus deveres de casa e em aula negava-me a participar das tarefas, pois achava TUDO bobo e enfadonho demais.
Meu comportamento insurgente fez meu desempenho despencar e com isso começou meu sofrimento.
Lívia passou a não querer mais ser minha amiga. Quando eu me aproximava, ela saía. Depois, começou a pedir que eu me retirasse das brincadeiras. Nossa! Como aquilo doía!
Eu não entendia direito o motivo do desprezo. É claro, sabia que as atitudes estavam relacionadas às minhas notas (já não mais as melhores). Contudo, em meu estreito ponto de vista, minha revolta era plenamente justificável. As aulas eram estúpidas e eu estava certa em não querer fazer nada. Acreditava inclusive, que Lívia estaria de acordo comigo. Mas não foi o que se sucedeu.
Perdi minha amiga, perdi o fio da meada, perdi meu prestígio. Fiquei perdida durante muitos, mas muitos anos. Talvez ainda hoje esteja perdida.
Durante minha vida escolar pude acompanhar o progresso de Lívia. Estudamos na mesma Instituição todo o Primeiro e Segundo Graus. A menina de orelhas de abano seguiu brilhando ano após ano. Foi líder de turma, líder de torcida, ganhou destaque em Feiras de Ciência e concluiu seus estudos tornado-se emblemática na escola. Todos a adoravam!
Ingressou sem dificuldades no curso de arquitetura de uma das melhores universidades do país. Como decorrência do sucesso, foi morar na Suíça só retornando ao Brasil anos mais tarde. Transformei-me em uma espécie de espectadora da vida de Lívia por um tempo considerável.
Fui uma boa aluna e conquistei meu espaço. Alcancei meus objetivos, mas o fantasma daquela menina perseguiu-me até bem pouco tempo, quando então pude compreender que as coisas não eram exatamente como as enxergava. Notas ou o meu desempenho acadêmico não faziam minha felicidade e nem conquistavam amigos leais. Entendi tarde demais que meus valores morais subjazem minha posição intelectual. Creio que tenha desperdiçado tempo, vida e energia com uma obsessão infundada.
Lívia depois de formada casou-se e tornou-se uma mãe dedicada e uma arquiteta medíocre. Hoje desenha torneiras, pias e lavabos. Nada diferente da grande maioria da população. Nada espetacularmente melhor ou mais significativo do que restante da humanidade.
Então por que perdi tanto tempo com ela? Qual a lição?
Equilíbrio. Esse foi o meu grande ensinamento.
Ter objetivos é salutar, mas deixar com que se transformem em obsessões, faz com que nos tornemos doentes, amargurados e solitários.
Ninguém vale tanto em tudo. Nosso espaço será sempre nosso. Não precisamos INVEJAR a vocação alheia, pois esta atitude além de não trazer frutos ainda faz com que percamos NOSSOS momentos, NOSSAS experiências que são intransferíveis. NOSSA vida vale mais a pena do que qualquer outra porque é NOSSA e constitui NOSSA história. TUDO que além disso existir, estará aquém e será RESTO.

terça-feira, 11 de maio de 2010

ELE

Está difícil de sair. Ainda que seja de noite.
Está incrustado. Ainda que seja de noite.
Está aqui dentro, e se fora ficar, feneço. Tento inúmeras vezes apartá-lo de mim, entretanto, agora, tornou-se parte do que me compõe.
Não sei se continuo lutando contra ou se simplesmente o aceito. Sinto que me rebelar, de nada resolve. Mas é doído. Até mesmo respirar é custoso sem ele.
Ele é dogmático, sentencioso, sintomático eu diria. Frequentemente, a única pergunta que me interessa ser respondida é: Quando ele vai embora? Quando vai se ausentar e me permitir seguir a vida? Ele vai embora ou essa é uma “cruz” que devo carrega ad infinitum?! Preciso saber.

sábado, 8 de maio de 2010

Tempo

A passagem do tempo e suas ações sobre os seres humanos sempre foi um assunto muito discutido. Inúmeras vezes, a abordagem principal é a questão estética do envelhecimento. Porém, raras ocorrências li/verifiquei sobre o lado bom do transcorrer de nossos dias aqui na terra.
Você já parou para pensar em como pode ser prazeroso que o tempo passe e nos mude? Como é agradável fazermos novas amizades, conhecermos pessoas diferentes e superarmos nossos obstáculos encontrando assim outros obstáculos pelo nosso caminho? Isso significa que estamos vivos!
Nosso corpo se transforma, sem dúvida, mas o que isso tem de tão negativo?! Em minha opinião, depende de como suas marcas temporais foram adquiridas. Desse fato, decorrerá a maneira como você as enxerga hoje. Se de grande parte das coisas que fez você se arrepende, suas rugas e reumatismos serão mais sofridos. Entretanto, se os vestígios são resquícios de um “embriagamento” próprio da ânsia de viver, então, “a ruga muda de expressão”, com o perdão pelo trocadilho cretino. (risos)
A maneira de enxergar a vida é condição sine qua non para que envelheçamos satisfeitos ou eternos rabugentos. Aliás, a rabugice não é uma característica restrita a senilidade, pois conheço vários jovens enfastiados com seu viver que de tudo e todos reclamam... E isso ocorre a todo o momento.
Há outro aspecto do correr do calendário que aqui também queria deixar destacado. A possibilidade incessante de transformação. O gozo pelo novo, por aquilo que ainda estou por descobrir. Ele existirá enquanto pudermos respirar. Acho esse fato simplesmente espetacular. Também haverá toujours a chance de mudarmos a nós mesmos, não importando qual nossa idade. O amor ajuda nessa compreensão.
Todavia, o lamentável é que muitas pessoas se neguem a aceitar o tempo e assim, deixem de saborear o percurso de sua própria existência. Perdem amigos, perdem acontecimentos e acabam perdendo, isto é, desperdiçando suas próprias vidas. PURA PERDA DE TEMPO...
ACEITAR, mais uma vez é essencial. Da aceitação passaremos ao desfrute das menores coisas que, não raramente serão as mais significativas (aquelas que mais marcaram) quando for chegado o momento de fecharmos nosso balanço existencial. Reminiscências tornar-se-ão superpotências se viver constituir-se em ACEITAR, QUERER E FAZER.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Os chatos

Tem gente que é especialista em “estragar tudo”. Desmotivadores, chatos, broxantes por excelência! Gostaria de saber qual a razão para esses SERES existirem. Todo mundo vez por outra já deve ter esbarrado em um exemplar dos tais, afinal, infelizmente (atente bem ao advérbio, que se refere à ausência felicidade), ELES ESTÃO POR TODA PARTE!
Depois de ter de aturar como quota diária ou penitência os meus inconvenientes-parceiros, resolvi escrever sobre os mesmos. Merecem referência, pois o que são de xaropes!!!
O caso é que muitos pensam nesses tipinhos como essencialmente “malas”, contudo, temos outras variedades. Duvida? Quer ver só? Então te convido a dar um salutar passeio pela sua memória.
Todo mundo já teve um namorado ou namorada que nunca estava disposto a fazer um programa legal, daqueles tipo: só ficar olhando pra o teto junto!!!! A maioria tem ou já teve um conhecido que jurava ser criativo, mas na realidade era só pateta- patético. Afff, esses estão sempre querendo provar de uma forma nada sutil sua pseudo-superioridade intelectual. E ainda tem os infames, que pensam que sua logorréia é uma verborragia refinada (prolixos para usarmos de eufemismo). Essa última espécie, no habitat por mim freqüentado é a mais comum. Pobre de mim!
Tá, mas o que eu quero partilhar é que os chatos além de chatearem, ainda estragam nossa festa. Está tudo indo bem, o dia transcorre legal, as coisas estão nos seus lugares e, de repente, eles aparecem! Maniáticos, PROFUNDOS, indagadores do alheio. Meu maior desejo é que eles fossem PIRILIMPLIMPADOS volta e meia. Para o bem geral da nação dos legais!!! (risos). Só usando de bom-humor pra suportar.
Ainda nos restam algumas horas do dia. Carpe Diem se faz urgente!!!!
Abaixo aos ENJOADOS!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Da certeza à certificação.

Por que será que quando estamos mais convictos daquilo que queremos, surge algo para abalar nossas estruturas?
Pois então... É exatamente assim que me sinto no dia de hoje. Até ontem, tudo era certeza, agora estou em terreno movediço. Qualquer movimento pode me fazer afundar de vez. Sinto que preciso de mais forças. Acho que ao fim e ao cabo é ruim termos certezas. Certezas podem parecer confortáveis, entretanto, esse bem-estar de aspecto perenal, em diversas situações dura pouco. Preciso de bom-senso, preciso de paz, preciso de sabedoria para agir. Preciso agir.
Quando estamos com medo, agir é o mais difícil. Faz-se necessário tomar atitudes, mas quais? O nosso emocional é, em determinadas circunstâncias muito lúdico, mas quando o assunto exige posicionamento, não creio que seja confiável nos deixarmos levar por sentimentos tão somente. Alors...A coisa não flui! Ai meu Deus! O que eu faço?!
Por que justo comigo? Por que agora? Por que não continuou como estava?
O desafio foi feito. Tenho algumas alternativas. Posso simplesmente calar. Posso responder e me apresentar para o duelo situacional heroicamente, mas também posso esperar e deixar que o tempo responda às minhas angústias. Responderá de fato?
Aposta feita! O que sugerem?

terça-feira, 4 de maio de 2010

E agora Daniela?

A criatividade acabou, o vocabulário esgotou , o léxico travou!!!
É verdade...Existem dias que a gente não tem a mínima inspiração. Parece que tudo que fizermos soará “fake”. Mas será que existe o falso? Será que algo ou alguma coisa constutui-se por ser falsa de verdade? (risos).
Dentro de minha área de estudos chamada de Análise do Discurso, relativizamos um pouco essa afirmação. Acreditamos que todos os discursos caracterizam-se por ser uma construção, espécie de “colcha de retalhos” de discursos outros, primevos. Dentro do caráter processual intrínsicamente discusivo sempre ocorreriam marcas de outros dizeres em nosso dizer e essa “corrente” jamais se esgotaria em si. Eu pessolamente, acho isso além de impressionante, encantador.
Questionar, pesquisar, duvidar, sempre foi peculiar a mim. Depois de tanto tempo, vejo que não mudei. Mas, voltando ao assunto, será que existe mesmo o genuinamente original? Bem, se a gente pensar que NÃO, tudo fica mais lasso, e o liame só enriquecerá nossa forma de pensar. Se uma coisa advém de outra, que foi precedida de outra e outra, veremos em tudo vários sentidos e em todas as coisas inúmeras razões. Nossas indagações, que outrora poderiam carecer na suspensão, dentro desse contexto intelectual poderão até tornarem-se algo um tanto profícuas. É claro, estou puxando A BRASA PARA O MEU ASSADO. Entretanto, eu realmente acredito que essa é uma linha de pensamento que além de abrir muito mais possibilidades criativas, circunscreve menos os sujeitos. Com isso quero dizer que as verdades absolutas podem nos bitolar. Por isso, não aceite as idéias prontas e as coisas que te cercam como naturais ou normais. Vale a pena viver, vale a pena pensar!!! SEMPRE.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Aceitar ou aceitar?

A gente nunca quer deixar-se RESSUMBRAR, mas às vezes, isso ocorre meio contra nossa vontade. Eu mesma, quantas milhares de vezes tentei me esconder e pateticamente, aí é que mais me revelei.

Sim, eu ando fugindo, mas quem não foge de alguém ou de alguma coisa?! Creio que o mais difícil da vida seja ACEITAR. Estamos “all the time” buscando transformar, resignificar, modificar, converter, mudar, alterar, mas ACEITAR, raramente queremos. Pior: nem nos damos conta dessa teimosia, tão intrínseca ela nos é.

Mas você já parou pra pensar que se aceitasse mais e melhor as pessoas e os fatos, talvez tivesse uma qualidade de vida bem superior àquela que anda levando???

Hoje pela manhã, diante do dilema sobre o que vestir, eu formulei a mim mesma este questionamento. Se eu aceitasse as roupas que tenho como boas e suficientes para mim, problema algum sequer existiria. Saí do campo semântico da moda (risos) e espraiei minha reflexão.

Não aceito minha profissão, meu cotidiano, meus amigos, não aceito minha família, não aceito nem meus sentimentos. Não aceito meu AMOR!!! Maior absurdo que esse impossível. Pois é...

Depois de lerem tudo isto, muitos estarão convictos de que sou uma intransigente incurável, mas humildemente me analisando, acho que não. Sou medíocre nesse aspecto, isto é, estou na média, muito semelhante à maioria das pessoas. Inconformada, buscando todo o tempo por algo que AINDA não possuo, mas que vou me esfolar para obter. Seqüelas capitalistas? Pode ser, mas o foco não para por aí. Não é uma contingência financeira a incapacidade de aceitar, é algo além, que não sei ao certo onde teve início e nem quando findará (se é que isso acontecerá). Alguns irão colocar a inconformidade como INQUIETAÇÃO e assim exaltar sujeitos que não se contentam com o que são ou tem, e lutando, chegam a lugares/posições privilegiadas. É fato que a vontade nos motiva e que a inércia nos mata, mas aceitar dentro do que estou propondo não seria nem uma coisa e nem outra. Aceitar se constituiria em uma entrega feliz, como se enchêssemos nossos pulmões de ar e simplesmente deixássemos a vida penetrar por todos nossos poros. Só aceitar, entende?!

Com isso não estou polemizando, propondo a saturação de sentidos, aceitação de imposições cruéis, absurdas e até mesmo fascistas. Não, não é isso. É aceitar como forma de amor. Aceitar enxergando um caminhão de erros e continuar lutando por aquela pessoa ou por aquele projeto. Aceitar, não desistindo de lutar, pelo contrário, encarando a ACEITAÇÃO como uma “peleja das boas, tchê!”

Enxergar no ato de aceitar muito mais um RECEBIMENTO do que uma forma de subserviência. Talvez isso fizesse nossos dias um “cadinho” mais prazeirosos, pois não?!

É só uma sugestão, mas creio que valha a pena pensar sobre.

Abraço

domingo, 2 de maio de 2010

Só pra começo de conversa...

Quando resolvi criar este espaço, sabia exatamente o que queria. Contudo, apenas ele passou a existir, já se dissolveram meus objetivos primeiros.
Iria abordar o sentido das palavras e como os "deslizamentos de Pêcheux" sempre foram fascinantes para mim. Agora penso em escrever sobre outra inquietação - minha fragmentação. Isso mesmo, aquilo que me levou a nomear este blog.
Mas quem é Dani Fragmentada? Pensei em me apropriar do termo "cindida", mas "fragmentada" me soou mais direto ao ponto, bem ao estilo Maria Daniela de ser.
Fazendo um esforço hercúleo para deixar de lado os clichês e lugares-comuns, devo revelar que nunca consegui entender quem eu era exatamente. Digo que administrar a mim mesma sempre foi uma tarefa bem difícil.
A figura escolhida para estampar o blog é do artista George Barbier, e alguns a esta altura estarão se perguntando o que isso tem a ver com o que eu narrava, então explico: Este artista em quase todas as suas gravuras esconde algo de andrógino, misógino ou seja lá o que for. A verdade, é que homens e mulheres nunca são bem delimitados sexualmente por Barbier e foi exatamente essa característica o que me fascinou em sua obra. A linha tênue, quase imperceptível que nos divide, nos demarca, nos identifica.
Aquilo que seria o fio-condutor de todos os nossos sentidos, mola dos nossos desejos, guia das nossas razões...Mas será que isso tudo existe? Será que precisamos de uma linha, uma linearidade?
A mim sempre me aborreceram as regras quando pareciam sem explicação (isto significaria sem sentido em meu ponto de vista). Advinda desta minha "rebeldia" tive inúmeros problemas e asseguro, continuo os tendo, só que agora eu os vejo sob outra perspectiva. Morfologicamente não são mais os mesmos, pois eu os mudei. Trouxe o torpe e o refiz, sendo que hoje, no meu universo, o desnivelado é de alto nível. Estou captando pessoas e atitudes de uma maneira mais "frouxa" e assim, as palavras que outrora pareciam bobas e vazias, tornam-se densas e cheias de mistérios clamando por deciframentos inesgotávies.
Convido você, que lê esse delírio a mergulhar em meu sem-fim de hipóteses e concordando ou questionando, mostrar as novas faces de pessoas e coisas que ainda não foram tão somente visualizadas!
D'accord?!
Abraço

Dani

Primeira vez

Eu nunca tive um blog e nem sei ao certo o que escreverei neste espaço daqui para frente. Não vou levar isso muito a sério e espero que façam o mesmo no que tange as palavras por mim aqui expressas.
Haverá dias em que isso se constituirá somente em um desabafo, em outros, estarei de fato polemizando acerca de algum assunto que me incomode, isto é, que leve a discursivizá-lo. Os leitores terão sempre ampla e irrestrita liberdade para expressarem suas opiniões sobre aquilo que por mim for dito.
Convido todos a lerem e, dentro do possível, e divertirem...nem que seja com minhas patuscadas!!!
Abraços


Dani