quarta-feira, 29 de julho de 2015

Arrogância equivocada


Você diz que sente pena e eu sinto pena da pena que sente.
É lamentável a crença de que se conhece alguém, apenas por meia dúzia de postagens nas redes sociais. É crer demais em seus poderes intuitivos, disfarçar mal a ideia de um eu-gnóstico. Discursivizar a solidão e dor alheia é minimizar o outro e maximizar a si. Não sou dada a extremos. Prefiro que os dias respondam meus questionamentos, que o tempo finalize a brincadeira em que consiste o viver.
Eu sou apenas uma peça do puzzle, eu não sou o puzzle... Entende?
Para algumas pessoas, é muito difícil compreender que a mola propulsora do mundo não é acionada pelos seus poderes mitômanos, que não são razão de toda e qualquer palavra proferida ou escrita. Estão sempre em meio a um voo alucinante em seu ciclone umbilical.
Eu faço perguntas retóricas, sim. É uma maneira que encontrei de organizar meus pensamentos, pôr em ordem a minha bagunça interior.  Eu falo sozinha, sim. Aliás, sempre falei. Mesmo tendo amigos, os momentos em que confabulei comigo, me trouxeram epifânicas respostas.
Há muito mais de loucura por aí, do que num gesto pueril de conversar com seus botões (como dizia minha vó). Mais adoecido emocionalmente está aquele que se incomoda com a elaboração pessoal e solitária do outro. Mais digno de pena é o indivíduo que tece palavras rudes diante de uma singela expressão de bom humor em uma segunda-feira sem sol. Menos sol de alma tem o que precisa usar suas capacidades para atingir com crueldade quem não precisa e nem se aborrece por pouco.
Não me importo de ESTAR solitária. Essa é uma escolha deliberada. Procuro respeitar meu ritmo, meu momento é de digressão. Não me sinto triste por estar comigo, minha tristeza não está escorada nas atitudes de outra pessoa. Eu não fujo do que sou, pelo contrário, eu admiro minha essência, minha quietude, minha forma de enfrentar as dificuldades. Meu silêncio é precioso para mim, pois é nele que me refugio e nele encontro minhas saídas. Não preciso de fotos no Instagram para provar que existo, tampouco necessito escancarar meus sentimentos para o mundo suplicando que me amem. Não careço de jogo de luz e sombra, não vivo para os holofotes imbecilizados da mídia. Minha vida é pequena por que decidi que no meu espaço, só entrarão aqueles que realmente me fizerem/quiserem bem.
Se você se irrita, tudo que tem a fazer é retirar-se. As alternativas para ignorar o que não agrada, hoje em dia, são inúmeras. Basta um clic e puf! O sujeito/sujeita deixa de existir.
À revelia do que você seja (ou pense que seja), continuarei existindo. À revelia do que você sinta, continuarei sendo.


terça-feira, 28 de julho de 2015

O raso e o cogulo

No início da sua vida. Foi lá que tudo começou. Você teve suas ideias cortadas rente à sua subjetividade, sua criatividade. Foi rapado em sua individualidade. Por isso, hoje, busca neuroticamente por independência. Confunde-a com indiferença. Você crê que a autossuficiência está ligada a pouca ou nenhuma solicitação de ajuda. O nó do egoísmo não aceita laços com a generosidade, e, aqueles que não empatizam, solitários serão. Você é.
Você é liso, escorregadio. Não tem nervuras, vincos ou sulcos. Sua alma não tem as reentrâncias necessárias para que consiga identificar-se com quem quer que seja.
As bordas do seu cotidiano são baixas. Não há espaços para grandes ousadias. Se as bordas do seu prato existencial fossem um tanto mais altas, você exploraria mais a vida e por certo reconheceria as preciosidades que lhe cercam. Infelizmente, você nem percebe os tesouros que passam pela frente dos seus olhos.
Você é raso de sorrisos, raso de lágrimas, raso de expressividades. Seu coração é uma planície e nenhuma batalha dentro dele é travada. Você é travado!
Raso como soldado raso, você é milico da vida. Não eleva sua patente, pois falta sangue nos dutos que o ligam ao real. Você é quase irreal, você se afasta das ocorrências que humanizam. Você se sedimenta no silêncio.
Você é raso. Não nada, não mergulha, não respira, tampouco sufoca.
Você é raso. Eu sou cogulo.

Excedi, transbordei e lhe chamei para pular no abismo comigo; Cogulo sendo, contigo apenas coagulei.