terça-feira, 18 de maio de 2010

Meu renascer com Renato

Quando o conheci, logo de cara achei que fosse mais um chato-inconveniente. Ele insistia em se aproximar de mim e ficava observando todos os meus cacoetes para depois imitá-los. Afff! Como eu o detestava!
Porém, fruto dessas ocorrências inexplicáveis em nossas vidas, mais tarde descobri quem ele era intimamente e dele gostei de forma singular, sem nenhuma sombra de dúvida.
Renato era um rapaz de baixa estatura, cabelos louros, olhos azuis, possuidor de um largo e contagiante sorriso. Pouquíssimas vezes o vi triste, e reparem que ele tinha muitas razões para isso...Contudo, seu bom-humor sobrepujava suas adversidades. Animação era uma de suas características preponderantes. Como antes relatei, no princípio de nosso relacionamento ele me irritava bastante, exatamente pelo mesmo motivo que me levou posteriormente a amá-lo. Todos os dias ele me inquiria: “E aí, Maria! Como você tá?”.
Aquilo para mim por si só já representava uma provocação, pois eu detestava ser chamada de Maria e ele sabia muito bem disso, mas o fazia pelo simples prazer de me provocar, me tirar do sério. E conseguia.
Na maior parte do tempo, eu sequer respondia as suas perguntas, fazia questão de ignorá-lo solenemente. Entretanto, Renato era incansável. Não adiantava fazer cara de desprezo, nojo, ou qualquer outra expressão facial. Quem ignorava nesse caso era ele.
Certa feita, nossa professora de História solicitou que fizéssemos uma pesquisa sobre a Guerra Civil Norte-Americana. O prazo para entrega do trabalho era de duas semanas, todavia, como comumente eu agia, deixei a realização de tal tarefa para o penúltimo dia anterior à data de entrega.
Estava eu em casa em uma bela tarde outonal. Como uma típica adolescente de classe média, escutava música no meu walkman (isso era moderno na época) e assistia à Sessão da Tarde, quando de repente me lembrei: O Trabalho de História! É para amanhã! Merda!!!!! Pensei comigo. Troquei de roupa rapidamente e saí correndo para a biblioteca da escola onde estudava, que para minha sorte ficava próxima à minha casa.
Chegando lá, me dirigi à bibliotecária e pedi auxílio para encontrar livros que abordassem tal assunto. Ela me olhou com um ar de tédio e respondeu: “O único livro que temos para pesquisar este tema está com aquele garoto”, indicando-me quem???? Ele mesmo, Renato – O chato. Quando dei com os olhos nele, a única coisa que percebi foi aquele sorriso irônico e debochado como a me dizer – “Vai ter de fazer comigo!”.
“Mas que droga!”, pensei. Não havia outra saída. Fui me sentar ao seu lado. Perguntei se poderia utilizar o livro, ao que ele prontamente me respondeu que sim.
Comecei a folhear as páginas maldizendo-me por aquela situação. Ele então se pôs a conversar.
Primeiro perguntou por que eu não tinha feito a pesquisa antes, numa clara tentativa de me amofinar. Depois, subitamente mudou de assunto, adquiriu um ar compenetrado e me indagou: “Maria, por que você fica brava por qualquer coisa?”. Por que leva tudo tão a sério?”.
Eu fiquei sem graça, pois não esperava nem aquela pergunta e nem tão pouco aquele rosto tão profundamente inquiridor a me observar. Na hora não soube o que responder. Fiquei sem ter o que dizer, e foi então que alguma coisa modificou-se em meu íntimo, instantaneamente. Senti um arrepio gostoso perpassar meu corpo quando aquele olhar sobre mim pousou. Parecia que ele via o que estava acontecendo em meu interior, pois sem desviar seu olhar um só instante, sorriu e acarinhou meu braço dizendo: “Vamos continuar o trabalho”.
Pronto! Eu estava apaixonada! Devo admitir que comigo, as questões amorosas sempre se deram de maneira abrupta. Minha vida foi pontuada por paixões fulminantes!
Terminamos a pesquisa e iniciamos nossa história de amor ali, naquela mesinha de biblioteca em uma tarde como outra qualquer.
Nada de surpreendente, nada diferente das demais tantas histórias que ouvimos por aí. Apenas dois adolescentes atingidos em cheio pela paixão e com seus hormônios funcionando a mil por hora.
Posso afirmar que Renato era no mínimo sui generis. Com ele fiz coisas absurdas e vivi grandes aventuras. Seus parâmetros éticos e morais eram discutíveis (risos).
Ele me levou a praticar pequenos furtos como roubo de bolachas recheadas no supermercado, por exemplo. Em sua companhia, inúmeras vezes fiquei de pileque e o que aprontamos nessas ocasiões é quase inconfessável.
Saíamos nos finais de semana, íamos passear em museus só para poder debochar das pessoas que lá se encontravam com suas faces solenes e taciturnas. Nos parquinhos de diversão, nossa maior aventura era causar o pânico no público de uma forma geral. Nós nos balançávamos freneticamente nas hastes da roda-gigante, apenas para poder rir do medo alheio. Vomitávamos na rua por efeito dos porres que tomávamos. Era muita zoação.
Renato me fez rir da vida e de mim mesma. Esse foi o maior presente que ele me deu. Praticamente um legado, eu diria. Carrego suas lições comigo até hoje. Ensinou-me a encarar fatos decisivos, enxergando em tudo e todo tempo, a possibilidade do riso.
O tempo passou e nosso amor juvenil também. Sinto saudades, mas sei que esse sentimento foi apenas uma experiência, um acontecimento transitório. Espécie de preparação para os amores que surgiram depois.
Muito rico foi o aprendizado que tive de meu relacionamento com Renato. O amor tem múltiplas fases e faces!

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