sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Lindo, lindo, lindo, lindo....

Em nome da boa e justa divulgação, aqui vai um tesouro publicado pela primeira vez em 06/07/1948, no jornal El Universal, na coluna “Punto y aparte” e reproduzida no livro “Textos Caribenhos, Obra jornalística, Volume I, 1948 a 1952”, páginas 99 e 100, Editora Record, 2006. Com a palavra, o mestre Gabriel García Márquez:
“E pensar que tudo isto estará alguma vez habitado pela morte. Que esta cálida madureza de sua pele, que sobe por meu tato até o abismo do meu desassossego, deva despedaçar-se um dia sobre o seu próprio silêncio desolado. Que esta ordem de coisas naturais, que fazem de você e de mim e da água e dos pássaros, nítidos volumes para a vindima dos sentidos, estará uma tarde afundada na névoa de distantes regiões. Que essa agitação de vozes interiores que sobe por seu sangue, que se aninha em seu ventre como um filho, quando lhe falo de coisas simples, elementares, como estas coisas formidáveis que estou falando, precise estar um dia transferido a outro corpo, quando os nossos conheçam o peso das pedras, e todavia continue sendo verdade o amor. Que essa dor de estar dentro de você, e distante de minha própria substância, há de encontrar alguma vez seu remédio definitivo.
“Pensar que alguma vez conheceremos os portos do esquecimento, igual a antes, quando ainda não tinham vindo estes corpos a habitar nossa tristeza. Que os homens terão que se surpreender alguma vez de que todos os pássaros emudeçam de repente, sem saber que é você, e que sou eu, que voltamos a nos encontrar mais além de nossos ossos. Que uma tarde retornarão os bois do arado com as lâminas iluminadas por uma amorosa claridade, e todos acreditarão que há estrelas semeadas, sem saber que é você, e que sou eu, que estamos preparando as sementes.  Que um domingo como este soarão os sinos com bronze estremecido e as crianças perguntarão espantadas quem morreu no domingo, sem saber que é você, e que sou eu, que ainda continuamos morrendo em todas as perguntas.
“Pensar que alguma vez as árvores perguntarão a suas raízes quando irão passar os vidros dos nossos olhos para que seja mais clara a luz de suas laranjas. Que a água dos rios nos levará , pó por pó, até o júbilo dos que tiveram sede e a mitigarão com o nosso barro. E cada uma das coisas que amamos continuará sendo bela sem necessidade de que nós a amemos.
“E, sobretudo, pensar que este amor nosso tem que morrer, antes que estas coisas passageiras estejam habitadas pela morte.”

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Não era uma pedra no meio do caminho...

No meio do meu caminho não havia uma pedra, mas uma placa de PARE. Fui obrigada a estancar. Olhar para os lados, para trás e para frente. A interrupção no percurso me obrigou a respirar, pensar, reelaborar e querer .
Tentei dar um passo, mas a placa ainda me susteve. Sentei no chão. Cruzei as pernas e ergui os braços aos céus num arremedo de pedido de socorro. Sentia que sufocava. Não sabia o que fazer. Meu direito de ir e vir naquele instante, se encontrava tolhido. O desespero quis se apoderar. Precisei respirar fundo. Acalmei um pouco.
Estava tudo ali, do mesmo jeito. Eu, a placa de PARE e todas as direções possíveis, entretanto,  permaneciam sistematicamente interditadas para mim. O que fazer? Está tudo aqui, na minha frente, pensei, mas estou proibida de seguir.
O fato me incomodava, causava revolta, ódio mesmo. Eu queria sair, queria prosseguir, necessitava andar.
Respirei. Pensei: tudo é uma questão de tempo, não importa qual seja, esse mesmo tempo que me impede de avançar, também será um dia, aquele que estará a me empurrar. Se serei lançada pra frente, para os lados ou para trás, isso pouca ou nenhuma diferença faz ou fará. Certo é que nesse estado não me manterei eternamente. Compreendi que o tempo só carecia de uma boa elaboração. Então eu QUIS. Foi quando, subitamente, tive a certeza de que as barreiras seriam transpostas. Enxerguei a placa à minha frente, mas nela as palavras agora eram outras. Estava escrito VÁ.
Eu fui. Tinha de ir. A vida me chamava!

sábado, 24 de setembro de 2011

sozinha, mas não só

Temos uma tendência estranha de achar que, quando estamos sem namorado, somos as únicas do planeta. Que nada! Você sabia que 25% das mulheres brasileiras estão solteiras, ou, como diz um amigo, “distraídas”? Pois é! E o grande desafio é estar sozinha sem se sentir só, sem ficar chateada. Tarefa que parece difícil, não é mesmo?

Mas, primeiro, vamos entender de onde vem esse sentimento.

Para a psicóloga Neiva Bohnenberger, as pessoas tendem a ficar melancólicas sem um par porque são tomadas por uma sensação de não pertencimento. Não têm em quem plugar o sentimento de “fazer parte”. Aí, dá um grande buraco no coração, parece que a gente não existe no meio de tantos casais. Para aliviar essa sensação, Neiva sugere buscar dentro de si um momento realmente feliz. Pode ser um encontro com uma amiga, um passeio com o cachorro no parque, uma tarde de sorvete... busque esse elo de pertencer dentro de você!

E, para ficar ainda mais de bem com você mesma, que tal experimentar essas dicas?

Leve-se para sair. Para almoçar num lugar gostoso, ir ao cinema, ao parque, se divertir;
Faça massagem em você mesma. Sim, sim, parte por parte do seu corpo, bem devagarzinho;
Compre-se um presente: uma bijuteria, uma caixinha de bombons, um belo CD;
Tome um longo e demorado banho quentinho;
Viaje com você para um lugar maravilhoso; 
Mande flores para si mesma. Se quiser, escreva um bilhete bem alto-astral;
Elogie-se! Você não vive chamando o seu amor de querido, lindo, gato, delícia etc.? Pois então...

Gisela Rao - Valeu, Gisela! Para o alto e avante! kkkkkkkk

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Você tem que encontrar o que você ama


Estou honrado de estar aqui, na formatura de uma das melhores universidades do mundo. Eu nunca me formei na universidade. Que a verdade seja dita, isso é o mais perto que eu já cheguei de uma cerimônia de formatura. Hoje, eu gostaria de contar a vocês três histórias da minha vida. E é isso. Nada demais. Apenas três histórias.
A primeira história é sobre ligar os pontos.
Eu abandonei o Reed College depois de seis meses, mas fiquei enrolando por mais 18 meses antes de realmente abandonar a escola. E por que eu a abandonei? Tudo começou antes de eu nascer. Minha mãe biológica era uma jovem universitária solteira que decidiu me dar para a adoção. Ela queria muito que eu fosse adotado por pessoas com curso superior. Tudo estava armado para que eu fosse adotado no nascimento por um advogado e sua esposa. Mas, quando eu apareci, eles decidiram que queriam mesmo uma menina.
Então meus pais, que estavam em uma lista de espera, receberam uma ligação no meio da noite com uma pergunta: “Apareceu um garoto. Vocês o querem?” Eles disseram: “É claro.”
Minha mãe biológica descobriu mais tarde que a minha mãe nunca tinha se formado na faculdade e que o meu pai nunca tinha completado o ensino médio. Ela se recusou a assinar os papéis da adoção. Ela só aceitou meses mais tarde quando os meus pais prometeram que algum dia eu iria para a faculdade. E, 17 anos mais tarde, eu fui para a faculdade. Mas, inocentemente escolhi uma faculdade que era quase tão cara quanto Stanford. E todas as economias dos meus pais, que eram da classe trabalhadora, estavam sendo usados para pagar as mensalidades. Depois de seis meses, eu não podia ver valor naquilo.
Eu não tinha idéia do que queria fazer na minha vida e menos idéia ainda de como a universidade poderia me ajudar naquela escolha. E lá estava eu, gastando todo o dinheiro que meus pais tinham juntado durante toda a vida. E então decidi largar e acreditar que tudo ficaria ok.
Foi muito assustador naquela época, mas olhando para trás foi uma das melhores decisões que já fiz. No minuto em que larguei, eu pude parar de assistir às matérias obrigatórias que não me interessavam e comecei a frequentar aquelas que pareciam interessantes. Não foi tudo assim romântico. Eu não tinha um quarto no dormitório e por isso eu dormia no chão do quarto de amigos. Eu recolhia garrafas de Coca-Cola para ganhar 5 centavos, com os quais eu comprava comida. Eu andava 11 quilômetros pela cidade todo domingo à noite para ter uma boa refeição no templo hare-krishna. Eu amava aquilo.
Muito do que descobri naquela época, guiado pela minha curiosidade e intuição, mostrou-se mais tarde ser de uma importância sem preço. Vou dar um exemplo: o Reed College oferecia naquela época a melhor formação de caligrafia do país. Em todo o campus, cada poster e cada etiqueta de gaveta eram escritas com uma bela letra de mão. Como eu tinha largado o curso e não precisava frequentar as aulas normais, decidi assistir as aulas de caligrafia. Aprendi sobre fontes com serifa e sem serifa, sobre variar a quantidade de espaço entre diferentes combinações de letras, sobre o que torna uma tipografia boa. Aquilo era bonito, histórico e artisticamente sutil de uma maneira que a ciência não pode entender. E eu achei aquilo tudo fascinante.
Nada daquilo tinha qualquer aplicação prática para a minha vida. Mas 10 anos mais tarde, quando estávamos criando o primeiro computador Macintosh, tudo voltou. E nós colocamos tudo aquilo no Mac. Foi o primeiro computador com tipografia bonita. Se eu nunca tivesse deixado aquele curso na faculdade, o Mac nunca teria tido as fontes múltiplas ou proporcionalmente espaçadas. E considerando que o Windows simplesmente copiou o Mac, é bem provável que nenhum computador as tivesse.
Se eu nunca tivesse largado o curso, nunca teria frequentado essas aulas de caligrafia e os computadores poderiam não ter a maravilhosa caligrafia que eles têm. É claro que era impossível conectar esses fatos olhando para frente quando eu estava na faculdade. Mas aquilo ficou muito, muito claro olhando para trás 10 anos depois.
De novo, você não consegue conectar os fatos olhando para frente. Você só os conecta quando olha para trás. Então tem que acreditar que, de alguma forma, eles vão se conectar no futuro. Você tem que acreditar em alguma coisa – sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que seja. Essa maneira de encarar a vida nunca me decepcionou e tem feito toda a diferença para mim.
Minha segunda história é sobre amor e perda.
Eu tive sorte porque descobri bem cedo o que queria fazer na minha vida. Woz e eu começamos a Apple na garagem dos meus pais quando eu tinha 20 anos. Trabalhamos duro e, em 10 anos, a Apple se transformou em uma empresa de 2 bilhões de dólares e mais de 4 mil empregados. Um ano antes, tínhamos acabado de lançar nossa maior criação — o Macintosh — e eu tinha 30 anos.
E aí fui demitido. Como é possível ser demitido da empresa que você criou? Bem, quando a Apple cresceu, contratamos alguém para dirigir a companhia. No primeiro ano, tudo deu certo, mas com o tempo nossas visões de futuro começaram a divergir. Quando isso aconteceu, o conselho de diretores ficou do lado dele. O que tinha sido o foco de toda a minha vida adulta tinha ido embora e isso foi devastador. Fiquei sem saber o que fazer por alguns meses.
Senti que tinha decepcionado a geração anterior de empreendedores. Que tinha deixado cair o bastão no momento em que ele estava sendo passado para mim. Eu encontrei David Peckard e Bob Noyce e tentei me desculpar por ter estragado tudo daquela maneira. Foi um fracasso público e eu até mesmo pensei em deixar o Vale [do Silício].
Mas, lentamente, eu comecei a me dar conta de que eu ainda amava o que fazia. Foi quando decidi começar de novo. Não enxerguei isso na época, mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que podia ter acontecido para mim. O peso de ser bem sucedido foi substituído pela leveza de ser de novo um iniciante, com menos certezas sobre tudo. Isso me deu liberdade para começar um dos períodos mais criativos da minha vida. Durante os cinco anos seguintes, criei uma companhia chamada NeXT, outra companhia chamada Pixar e me apaixonei por uma mulher maravilhosa que se tornou minha esposa.
A Pixar fez o primeiro filme animado por computador, Toy Story, e é o estúdio de animação mais bem sucedido do mundo. Em uma inacreditável guinada de eventos, a Apple comprou a NeXT, eu voltei para a empresa e a tecnologia que desenvolvemos nela está no coração do atual renascimento da Apple.
E Lorene e eu temos uma família maravilhosa. Tenho certeza de que nada disso teria acontecido se eu não tivesse sido demitido da Apple.
Foi um remédio horrível, mas eu entendo que o paciente precisava. Às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o meu amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama. Isso é verdadeiro tanto para o seu trabalho quanto para com as pessoas que você ama.
Seu trabalho vai preencher uma parte grande da sua vida, e a única maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz.
Se você ainda não encontrou o que é, continue procurando. Não sossegue. Assim como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. E, como em qualquer grande relacionamento, só fica melhor e melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até você achar. Não sossegue.
Minha terceira história é sobre morte.
Quando eu tinha 17 anos, li uma frase que era algo assim: “Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia ele realmente será o último.” Aquilo me impressionou, e desde então, nos últimos 33 anos, eu olho para mim mesmo no espelho toda manhã e pergunto: “Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?” E se a resposta é “não” por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa.
Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo — expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar — caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração.
Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração.
Há um ano, eu fui diagnosticado com câncer. Era 7h30 da manhã e eu tinha uma imagem que mostrava claramente um tumor no pâncreas. Eu nem sabia o que era um pâncreas.
Os médicos me disseram que aquilo era certamente um tipo de câncer incurável, e que eu não deveria esperar viver mais de três a seis semanas. Meu médico me aconselhou a ir para casa e arrumar minhas coisas — que é o código dos médicos para “preparar para morrer”. Significa tentar dizer às suas crianças em alguns meses tudo aquilo que você pensou ter os próximos 10 anos para dizer. Significa dizer seu adeus.
Eu vivi com aquele diagnóstico o dia inteiro. Depois, à tarde, eu fiz uma biópsia, em que eles enfiaram um endoscópio pela minha garganta abaixo, através do meu estômago e pelos intestinos. Colocaram uma agulha no meu pâncreas e tiraram algumas células do tumor. Eu estava sedado, mas minha mulher, que estava lá, contou que quando os médicos viram as células em um microscópio, começaram a chorar. Era uma forma muito rara de câncer pancreático que podia ser curada com cirurgia. Eu operei e estou bem.
Isso foi o mais perto que eu estive de encarar a morte e eu espero que seja o mais perto que vou ficar pelas próximas décadas. Tendo passado por isso, posso agora dizer a vocês, com um pouco mais de certeza do que quando a morte era um conceito apenas abstrato: ninguém quer morrer. Até mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá.
Ainda assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca conseguiu escapar. E assim é como deve ser, porque a morte é muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Ela limpa o velho para abrir caminho para o novo. Nesse momento, o novo é você. Mas algum dia, não muito distante, você gradualmente se tornará um velho e será varrido. Desculpa ser tão dramático, mas isso é a verdade.
O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém.
Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas.
Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior.
E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário.
Quando eu era pequeno, uma das bíblias da minha geração era o Whole Earth Catalog. Foi criado por um sujeito chamado Stewart Brand em Menlo Park, não muito longe daqui. Ele o trouxe à vida com seu toque poético. Isso foi no final dos anos 60, antes dos computadores e dos programas de paginação. Então tudo era feito com máquinas de escrever, tesouras e câmeras Polaroid.
Era como o Google em forma de livro, 35 anos antes de o Google aparecer. Era idealista e cheio de boas ferramentas e noções. Stewart e sua equipe publicaram várias edições de Whole Earth Catalog e, quando ele já tinha cumprido sua missão, eles lançaram uma edição final. Isso foi em meados de 70 e eu tinha a idade de vocês.
Na contracapa havia uma fotografia de uma estrada de interior ensolarada, daquele tipo onde você poderia se achar pedindo carona se fosse aventureiro. Abaixo, estavam as palavras:
“Continue com fome, continue bobo.”
Foi a mensagem de despedida deles. Continue com fome. Continue bobo. E eu sempre desejei isso para mim mesmo. E agora, quando vocês se formam e começam de novo, eu desejo isso para vocês. Continuem com fome. Continuem bobos.
Obrigado.

domingo, 18 de setembro de 2011

Abraço de Judas

Todo presidiário tem dez minutinhos de sol, um recreio para banhar o rosto com a luminosidade da manhã.

Já quem é livre talvez passe 24h longe de um pátio, desprovido de um mísero contato com a luz do dia. Talvez não abra a janela, sequer levante as persianas, para espiar o azul do horizonte e criticar a temperatura dos relógios da rua.

Quem é livre age com culpa. Encarna-se na profissão como um condenado, debruçado a atender os múltiplos sinais do celular, laptop, iPad, televisão.

Sempre encontra um tempo para adiantar uma tarefa, mesmo que seja necessário abdicar do almoço, mas nunca abre frestas para se sentir no mundo.

Suas frases mais comuns são que não tem escolha; precisa se sustentar; há muito a fazer.

Aparentemente solto, está confinado na solitária do seu trabalho — e não percebe o valor de respirar a cerração, espirrar quando surge um vento mais gelado e descascar tangerinas no meio-fio solar, fugindo do lado das sombras.

Esquece que o centro tem praças, que as praças têm bancos, que nos bancos caem máscaras de oxigênio das árvores.

Esquece o livre-arbítrio, envolvido na onipotência de desdenhar da vida.

Se fossemos samambaias, estaríamos mortos. Secos. Murchos. Somos vasos e demoramos a rachar. A longevidade não é saúde.

Até abraçar desaprendemos. Ninguém mais abraça com vontade. Com sinceridade de velório.

Odeio abraço falso, como aquele beijo de frígida, no qual a face bate na face e os lábios se transformam em beiço.

Abraço tem que ter pegada, jeito, curva. Aperto suave, que pode virar colo. Alento tenso, que pode virar despedida.

É pelo abraço que testo o caráter do outro. Não confio em quem logo dá tapinhas nas costas. A rapidez dos toques indica a maldade da criatura.

Não sou porta para bater. Nem madeira para espantar azar.

Abraço com toquinho é hipócrita. É abraço de Judas. De traidor. O sujeito mal encosta a pele e quer se afastar. Pede espaço porque não suporta os pecados dos pensamentos.

Devemos fechar os olhos no abraço, respirar a roupa do abraçado, descobrir o perfume e a demora no banho.

Abraço não pode ser rápido senão é empurrão. Requer cruzamento dos braços e uma demora do rosto no linho.

Abraço é para atravessar o nosso corpo. Ir para a margem oposta. Nadar para ilha e subir ao topo da pedra pela gratidão de sopro.

Sou adepto a inventar abraços. Criar abraços. Inaugurar abraços. Realizar um dicionário de abraços. Um idioma de abraços.

O meu é o de cadeira de balanço. Giro nas pontas dos pés. Não largo, os primeiros minutos são para sufocar, os demais servem para o enlaçado se recuperar do susto.

Não entendo onde terminará o abraço. Se a pessoa vai chorar ou vai rir. Abraço é confissão.

Dez minutinhos de sol e de liberdade.
 
Fabrício Carpinejar

sábado, 17 de setembro de 2011

Enfrente seus medos

A força está com você - brincando de viver!!!

Pois é, eu achava que essa frase era negócio de filme de ficção, mas hoje eu me toquei de uma coisa. Eu tenho um amigo que eu adoro e conheço há anos. O Edu é uma espécie de irmão para mim. Quando a minha mãe estava mal eu pedi para ele ser o meu “acompanhante” quando acontecesse o velório dela. Também pedi a ele para ser meu parceiro no dia em que a Pipi partiria porque sabia que ia ser barra.
Hoje me toquei de duas coisas: 1- Ele não pôde ir em nenhuma das situações. 2- Eu não senti a falta dele, segurei numa boa (o que não quer dizer que eu não tenha chorado e borrado o rímel alucinadamente).
Às vezes, a gente amadurece, se fortalece, retoma o poder em nossas mãos e nem percebe. E, assim, acaba caindo a ficha de que agora somos os “Edus” de nós mesma(o)s.
E, em um dia, você está tão triste que dava até para lavar o corcovado. E no dia seguinte vai catando as coisas que pertenciam à coisinha fofa que você amava e vai colocando tudo numa sacola para doar para quem ainda tem o pulso pulsando.
Isso significa que seu pedaços de “lego” se encaixaram novamente e que agora você já não é mais a mesma pessoa e que, sim, está muito mais madura e dura na queda, forte o suficiente para se ajudar e para ajudar mais ainda quem também precisa.
Gisela Rao

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sem mortos e feridos

Uma das coisas que mais me incomodam no convívio humano é o quanto as pessoas se agarram ao próprio lixo. Não que eu não tenha minha própria lata enferrujada, mas eu tento - e tento com sucesso considerável, devo admitir - me livrar do que não me serve mais.

É curioso notar como as relações mais devastadoras são as que mais suscitam apego (essas relações são piores do que lixo, pois o lixo ainda pode ser reciclado).

Uma amiga teve um casamento desastroso. Quando começa a se dar o direito de pensar num outro romance, ela engata paquera com um homem que também teve um casamento desastroso. E como eles combinam um primeiro encontro? Purgando dores e falando dos respectivos ex!

Quando minha amiga me perguntou o que eu achava disso, eu tive de ser sincera. E mostro a você, agora, o que minha sinceridade respondeu a ela.

"Dear, se você me pede uma análise sobre a proposta do seu novo quase-amor, suponho que não queira a averbação da felicidade futura. Por exemplo, se você está em dúvida sobre fumar ou não maconha e decide pedir uma opinião ao Marcelo D2, você já tomou sua decisão - apenas não quer se responsabilizar por ela ainda.

Portanto, como você perguntou a mim (e sabe o que eu penso a respeito), você já tomou uma decisão. De qualquer maneira, lá vai minha resposta: eu odiaria passar minha primeira noite com um homem desse modo, o-d-i-a-r-i-a! Em vez de vocês começarem pelo começo - um novo, leve, limpo, solar começo, um começo onde haja apenas vocês dois -, a proposta é iniciar pelo avesso, pelo enterro dos mortos (que já deveriam estar devidamente enterrados). Vai ser um encontro estranho: você, seu ex, ele e a ex dele (dois humanos, dois espectros: que medo).

Que tal tentar convidá-lo para um espaço em que só entrem você e ele? Exorcizar fantasmas é coisa que a gente faz no analista, faz sozinho. Quando vai encontrar alguém, ou vai com a alma aberta, para olhar para frente, sem arrastar latas, ou é melhor não ir. Se as tranqueiras do passado se amontoam pela sala, ainda não é hora de começar nada, nem amizade com benefícios, nem namoro, nem nada. Vocês vão detonar essa relação se a iniciarem assim, metendo nela outras pessoas (pessoas que deveriam estar mortas, mas que pelo visto estão cheias de dolorosa vitalidade).

Abre a janela, deixa o sol entrar (oh, violinos quase soam ao fundo) e corta esse papo de 'vamos trocar dores'. Vocês têm de trocar suor, tesão, olhares intensos, risadas, conhecimento, bobagens, leveza, livros, músicas, salivas. Sem mortos para que não haja mais feridos".

Stella Florence

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A última pedra

Existem pessoas que não prestam atenção no que fazem e depois passam a vida inteira arrependidas pelo que não fizeram, mas poderiam ter feito, e se martirizam por seus erros.
Gosto de uma música que Frank Sinatra costumava cantar, My way. O curioso é que só fui prestar atenção na letra dessa canção quando escrevia este texto. Ela diz mais ou menos assim: "Se eu acertei ou se errei, fiz isso da minha maneira".

Quando olho para trás, percebo que fiz muitas bobagens. Acertei bastante, mas também errei bastante. Quando olho para diante, tenho certeza de que vou acertar e errar bastante também. É impossível acertar sempre. Mas o importante é que não gastemos nosso tempo nem nossa energia nos torturando. A autocrítica pelo que não deu certo, além de ser nociva para a saúde, faz que a gente perca os passarinhos que a vida nos oferece no presente.

Um dia destes, um dos meus filhos me perguntou por que eu tomei determinada decisão estúpida tempos atrás. Respondi que me arrependia do que tinha feito, mas expliquei que, naquele momento, minha atitude me parecia lógica. Se eu tivesse o conhecimento e a maturidade de hoje, certamente a decisão seria diferente.

Por isso é que lhe digo: não se torture por algo que não deu certo no passado.
Talvez você tenha escolhido a pessoa errada para casar.
Talvez tenha saído da melhor empresa onde poderia trabalhar.
Talvez tenha mandado uma filha grávida embora de casa.
Não importa o que você fez, não se torture.
Apenas perceba o que é possível fazer para consertar essa situação e faça.
Se você sente culpa, perdoe-se.
E, principalmente, compreenda que agiu assim porque, na ocasião, era o que achava melhor fazer.

Há uma história de que gosto muito: um pescador chegou à praia de madrugada para o trabalho e encontrou um saquinho cheio de pedras. Ainda no escuro começou a jogar as pedras no mar. Enquanto fazia isso, o dia foi clareando até que, ao se preparar para jogar a última pedra, percebeu que era preciosa!
Ficou arrependido e comentou o incidente com um amigo que lhe disse:
Realmente, seria melhor se você prestasse mais atenção no que faz, mas ainda bem que sobrou a última pedra!

Existem pessoas que não prestam atenção no que fazem e depois passam a vida inteira arrependidas pelo que não fizeram, mas poderiam ter feito, e se martirizam por seus erros. Se você está agindo assim, deixo-lhe uma mensagem especial: não gaste seu tempo com remorsos nem arrependimentos. Reconheça o erro que cometeu, peça desculpas e continue sua vida.

Você ainda tem muitas pedras preciosas no coração: muitos momentos lindos para viver e muitos erros para cometer.

Aproveite as oportunidades e curta plenamente a vida.

Curta os passarinhos. Eles são os presentes do universo para você!

(Roberto T. Shinyashiki)

domingo, 11 de setembro de 2011

Vamos refletir?

Disfarces
Logo que o bebê nasce começa a ouvir frases e receber agrados e carícias por condutas que seus pais, parentes e amigos valorizam.
A mãe diz: 'Ele é maravilhoso, não chora nunca' ou 'É tão quietinho, até esqueço dele'. Aí um determinado dia o bebê não está feliz, chora e a mãe diz: 'Ih, ele hoje está chato', ou 'Deixa ele chorando no berço, hoje ele não tem jeito mesmo'.
Bastante rápido o bebê percebe que nesse ambiente de escassez de carícias, ele não vai receber carícias que necessita se agir espontâneamente. Passa então, a modificar suas condutas, seus pensamentos e, em consequência, seus sentimentos.
Passado algum tempo ele acaba se esquecendo que a mudança foi para receber carícias somente no seu ambiente familiar, e passa a adotar essa postura socialmente, e por fim acaba perdendo o caminho de volta para a espontaneidade, a intimidade e a liberdade.
Essas mudanças de condutas, pensamentos e sentimentos, levam a criança a exibir seus "disfarces", ou seja, passar a mostrar uma conduta valorizada no meio em que vive, ao invés de preservar seus sentimentos reais.
A criança percebe que recebe mais carícias do seu meio, às vezes, se:
- Ao invés de brincvar, estuda;
- Outras vezes fica doente e passa a não estudar;
- Não chora, faz cara de que está tudo bem;
- Para de ser afetiva e se torna briguenta.
Foi feita uma experiência que consistiu em colocar um rato em frente a um labirinto. O rato passa a explorar esses túneis, a princípio somente movido pela curiosidade, depois de algum tempo, passa a sentir fome e a procurar o alimento.
Finalmente, encontra esse alimento no túnel número quatro, e repetidas vezes a comida é colocada no mesmo túnel. O rato, passado determindo tempo, mesmo que não seja colocado alimento no túnel número quatro, continuará procurando esse túnel em busca de sua nutrição, e ficará aí o todo o tempo, podendo mesmo vir a morrer.
Aprendeu que encontraria comida em determinado lugar, não teve a percepção de procurar alimento em outros túneis.
Com as pessoas acontece o mesmo: aprendemos que conseguimos carícias com determinadas formas de condutas, e nos acostumamos a elas sem experimentarmos novas maneiras, sem termos a consciência de que os tempos mudaram.
A criança descobre que será valorizada pelos pais por:
Imitá-los - ser tão depressiva como a mãe ou tão briguenta quanto o pai;
Aceitar uma...
Proibição - 'Filho meu não chora', ou 'filha minha não chega depois das dez horas'
Realizar uma...
Indicação - 'Você tem que ficar contente por tê-lo deixado, agora está livre para fazer o que quiser...'
Mostra-se...
Indiferente a determinadas condutas ou situações - 'Não fique triste, não vale a pena...', ou 'Não se incomode por não ter sido convidado.'
Supervalorização a determinadas condutas - 'Ela não me dá nenhum trabalho, faz tudo sozinha'; ou: 'meu filho não me faz tão feliz, nunca me trouxe problemas.'
A criança aprende então que, mostrando seus disfarces, consegue agradar ao ambiente, manipulando-o para receber as carícias que necessita. A partir daí, as pessoas colocam suas máscaras e passam a se relacionar através delas. E, também, começam a descobrir que o amor pelas máscaras não satisfaz.
Na verdade, o que elas querem é serem amadas sem os disfarces.
Porém, muitas ficam no túnel número quatro, a espera de alimento por algo que um dia garantiu a sobrevivência.
Aliás...
O que você ainda está fazendo aí no túnel número quatro?
Com essa expressão de vítima...
ou querendo salvar a todos.
TEM MUITO ALIMENTO EM OUTRAS PESSOAS E SITUAÇÕES DA VIDA!




                                            NOTA                                                    
 Eric Berne, um psiquiatra canadense, desenvolveu o conceito "strokes", que significa, ao mesmo tempo: carícia, toque, estímulo e reconhecimento. Infelizmente, em português, não temos uma palavra com este sentido global, o que leva algumas pessoas a optarem pelo uso do termo em inglês. Neste texto, foram usadas as palavras carícia e estímulo, que ainda são incompletos como sinônimos. Entretanto, estes termos foram consagradas pelo uso na comunidade de Análise Transacional Brasileira.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

sábado, 3 de setembro de 2011

Rock of Ages



A cada peso a ser erguido, o Senhor ajuda com sua mão.
A cada redemoinho de tristeza que se ergue, o seu amor se expande.
Cada sofrimento Ele unta com seu bálsamo.
A dor da angústia, Ele tem dado calma abençoada!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Agradecimento

 O primeiro dia do mês de setembro foi um dia em que o sol brilhou com tanta intensidade, que fez parecer com que até meu coração estivesse a  brilhar junto. E subitamente, veio a vontade de agradecer a Deus!
Lembrei dos meus amigos, em lugares dos mais variados do planeta, olhei para minhas pernas saudáveis e que me levam onde desejo e preciso ir. Pensei nos meus olhos, brindados com todo o explendor deste dia. Senti o vento soprando no meu rosto pela janela do ônibus e disse: Sim, muito obrigada meus Deus! Sou largamente grata por estar viva neste momento!
Há pessoas que me amam, tenho uma casa, uma mente saudável, planos para o futuro, melhor que isso, TENHO FUTURO! E me senti feliz, novamente agradecendo. Entretanto, de repente, uma nuvem turva quis estragar meu contentamento...As dores passadas, as decepções, os desapontamentos... Mas não, pensei... O que tenho em mãos, agora, neste exato instante é capaz de me trazer muita felicidade. Graças dei, e de novo e mais uma vez e outra. Sorri sozinha, voltando para casa. Não preciso de explicações para estar agradecida ou contente, apenas o fato de ter uma vida, já é um motivo uma razão, um presente.
Lembrei de uma canção do Guilherme Arantes, na verdade, uma versão. Ele é um cantor fraco em extensão vocal, mas tem sensibilidade. Achei que seria bacana compartilhar aqui.