quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Explicação da Eternidade

Explicação da Eternidade

devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
...
em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.

José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão"

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Os cinco maiores arrependimentos dos pacientes terminais
Recentemente foi publicado nos Estados Unidos um livro que tem tudo para se transformar em um best seller daqueles que ajudam muita gente a mudar sua forma de enxergar a vida. The top five regrets of the dying (algo como “Os cinco principais arrependimentos de pacientes terminais”) foi escrito por Bronnie Ware, uma enfermeira especializada em cuidar de pessoas próximas da morte.
Para analisar a publicação, convidamos a Dra. Ana Cláudia Arantes – geriatra e especialista em cuidados paliativos do Einstein – que comentou, de acordo com a sua experiência no hospital, cada um dos arrependimentos levantados pela enfermeira americana. Confira abaixo.

1. Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim
“À medida que a pessoa se dá conta das limitações e da progressão da doença, esse sentimento provoca uma necessidade de rever os caminhos escolhidos para a sua vida, agora reavaliados com o filtro da consciência da morte mais próxima”, explica Dra. Ana Cláudia.
“É um sentimento muito frequente nessa fase. É como se, agora, pudessem entender que fizeram escolhas pelas outras pessoas e não por si mesmas. Na verdade, é uma atitude comum durante a vida. No geral, acabamos fazendo isso porque queremos ser amados e aceitos. O problema é quando deixamos de fazer as nossas próprias escolhas”, explica a médica.
“Muitas pessoas reclamam de que trabalharam a vida toda e que não viveram tudo o que gostariam de ter vivido, adiando para quando tiverem mais tempo depois de se aposentarem. Depois, quando envelhecem, reclamam que é quando chegam também as doenças e as dificuldades”, conta.

2. Eu gostaria de não ter trabalhado tanto

“Não é uma sensação que acontece somente com os doentes. É um dilema da vida moderna. Todo mundo reclama disso”, diz a geriatra.
“Mas o mais grave é quando se trabalha em algo que não se gosta. Quando a pessoa ganha dinheiro, mas é infeliz no dia a dia, sacrifica o que não volta mais: o tempo”, afirma.
“Este sentimento fica mais grave no fim da vida porque as pessoas sentem que não têm mais esse tempo, por exemplo, pra pedir demissão e recomeçar”.

3. Eu gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos

“Quando estão próximas da morte, as pessoas tendem a ficar mais verdadeiras. Caem as máscaras de medo e de vergonha e a vontade de agradar. O que importa, nesta fase, é a sinceridade”, conta.
“À medida que uma doença vai avançando, não é raro escutar que a pessoa fica mais carinhosa, mais doce. A doença tira a sombra da defesa, da proteção de si mesmo, da vingança. No fim, as pessoas percebem que essas coisas nem sempre foram necessárias”.
“A maior parte das pessoas não quer ser esquecida, quer ser lembrada por coisas boas. Nesses momentos finais querem dizer que amam, que gostam, querem pedir desculpas e, principalmente, querem sentir-se amadas. Quando se dão conta da falta de tempo, querem dizer coisas boas para as pessoas”, explica a médica.

4. Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos

“Nem sempre se tem histórias felizes com a própria família, mas com os amigos, sim. Os amigos são a família escolhida”, acredita a médica. “Ao lado dos amigos nós até vivemos fases difíceis, mas geralmente em uma relação de apoio”, explica.
“Não há nada de errado em ter uma família que não é legal. Quase todo mundo tem algum problema na família. Muitas vezes existe muita culpa nessa relação. Por isso, quando se tem pouco tempo de vida, muitas vezes o paciente quer preencher a cabeça e o tempo com coisas significativas e especiais, como os momentos com os amigos”.
“Dependendo da doença, existe grande mudança da aparência corporal. Muitos não querem receber visitas e demonstrar fraquezas e fragilidades. Nesse momento, precisam sentir que não vão ser julgados e essa sensação remete aos amigos”, afirma.

5. Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz

“Esse arrependimento é uma conseqüência das outras escolhas. É um resumo dos outros para alguém que abriu mão da própria felicidade”.
“Não é uma questão de ser egoísta, mas é importante para as pessoas ter um compromisso com a realização do que elas são e do que elas podem ser. Precisam descobrir do que são capazes, o seu papel no mundo e nas relações. A pessoa realizada se faz feliz e faz as pessoas que estão ao seu lado felizes também”, explica.
“A minha experiência mostra que esse arrependimento é muito mais dolorido entre as pessoas que tiveram chance de mudar alguma coisa. As pessoas que não tiveram tantos recursos disponíveis durante a vida e que precisaram lutar muito para viver, com pouca escolha, por exemplo, muitas vezes se desligam achando-se mais completas, mais em paz por terem realmente feito o melhor que podiam fazer. Para quem teve oportunidade de fazer diferente e não fez, geralmente é bem mais sofrido do ponto de vista existencial”, alerta.

 

“O que fica bastante claro quando vejo histórias como essas é que as pessoas devem refletir sobre suas escolhas enquanto têm vida e tempo para fazê-las”.

Pois é...

Quantos homens eram inverno
Outros verão
Outonos caindo secos
No solo da minha mão...


Zé Ramalho

Bebeto Alves - Mais Uma Canção


sábado, 6 de outubro de 2012

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Minhas origens

Eu sou de família pobre. Não tenho um sobrenome pomposo. Também não possuo grandes orgulhos de minha filiação (no que se refere ao meu lado paterno).
Desde os meus primeiros anos de vida, passei por situações pra lá de vexatórias. Infelizmente, nem todos nós temos a sorte ou a honra de sermos filhos de pais íntegros.
Meu pai nunca foi uma pessoa equilibrada e tão pouco honesta. Apesar de ser relativamente afetuoso com os filhos, usava as palavras com extrema habilidade quando o assunto era machucar aqueles que o cercavam. Não escapei ilesa de suas agressões verbais.
Da parte de minha mãe, o silêncio foi a arma utilizada para revanche. É claro que sua tática não deu certo cem por cento, pois ela teve úlceras que lhe provocaram dores lancinantes  durante sua juventude. Depois das feridas de estômago, restaram as feridas de alma, e essas receio que não cicatrizaram ainda. Nem nela, nem em mim ou no meu irmão.
Mas sobrevivemos. Creio que existam pessoas com problemas parecidos com os nossos, alguns até em situação pior, então, pensar assim me traz um misto de resignação e conforto. E como acredito que tudo, absolutamentre TUDO tenha um lado positivo, até mesmo os despautérios do meu pai serviram para alguma coisa.
Eu e meu irmão temos um senso agudo de justiça e honestidade. Estranhamente, ainda que os exemplos que meu pai tenha nos dado sejam péssimos, nós decidimos, cada um da sua maneira, que seríamos o extremo oposto daquele que havia cooperado para que existíssemos.
Nutro insondável admiração pelo caráter e honradez de meu irmão. Conheço poucas pessoas como ele, capaz de renunciar a centavos só para manter sua honestidade intacta.  Eu procuro agir de maneira parecida. Jamais tomei algo que não me pertencia por direito, não me lembro de ter enganado alguém conscientemente, e se assim o fiz (inconscientemente), peço desculpas. Intenção deliberda de ludibriar, sei que nunca tive. Sou feliz por ser assim, mas sei que muitos me julgam extremista, dura, cruel e racional demais.
Todas estas adjetivações talvez sejam adequadas a minha pessoa em um momento ou outro, entretanto, elas ocultam uma vontade guardada bem lá no fundo, de provar ao mundo que eu presto, e que embora eu tenha um genitor que me envergonhe, posso ser diferente dele. É uma luta diária, que envolve cada instante, cada minuto, cada segundo daquilo constroi meus sentidos.
Estou escrevendo este texto como um desabafo, pois nos últimos dias, senti algo que há muito tempo havia esquecido como era - e não queria ter lembrado. Fui humilhada, pior, fui ferida em meus brios, algo que é muito caro para mim, diria quem sabe minha maior riqueza.
Como eu relatei, sou pobre e não disponho de bens monetários vultuosos. Em meio a todas as patuscadas de que meu pai nos fez refém, o único bem que preservamos foi a casa onde moramos. Poderíamos ter muito mais posses, mas as megalomanias e irresponsabilidades não deixaram. Ainda assim, me julgo feliz por ter "onde cair morta" rs. Acho que sou afortunada por fazer parte de uma família que possui casa própria em uma capital como Porto Alegre.
Dito isso, prossigo com a digressão do início desta narrativa.
Eu me considero uma pessoa séria não só comigo, mas com que convivo. Procuro respeitar os demais, partilhando ou não de suas crenças. Todavia, minha afabilidade é uma couraça social. Algo de que lanço mão para manter relacionamentos no nível do saudável. Quero dizer com isso que não sou parva, tola ou atoleimada. Eu reconheço meu tamanho, mas isso não dá o direito a certas pessoas de pisarem em mim. Aliás, ninguém tem o direito de pisar em ninguém, nem que possua toda a riqueza do universo. Cada um de nós tem o seu reino particular, e quando ele é invadido ou pilham nossas almas com agressões como se fôssemos mercadorias, vê-se o quão diferente é a definição de valor e preço.
Sinceramente, eu acho que não tenho preço, pois não estou à venda. Não me seduzo por posses, ou coisas que o dinheiro possa garantir. Já me considerei a pessoa mais feliz do mundo apenas saboreando um cachorro-quente de 1,99. Eu sou feliz por poder ver todos os dias o vento soprando nas copas das árvores. Minha  riqueza está intimamente ligada aos meus sentimentos, então, fazer um lanche com minha família já é motivo justificadíssimo para que eu me sinta afortunada. Apesar de ter um pai desajustado, ele corroborou para que eu aqui estivesse, não só eu, mas meu irmão. Hoje podemos nos reunir e ver nossa família crescer com a chegada de minha sobrinha. Todos estes acontecimentos são suficientes para que me sinta grata a Deus por ainda viver.
Eu tenho valor, e o tenho pois sei valorizar quem me ama. No entanto, se me surpreendo vendo que o amor era só uma face de venalidade, não vejo motivo para valorizar  quem só consegue enxergar preços.