sexta-feira, 29 de junho de 2012

Serenidades e amenidades

Cá estou, imobilizada, sentindo uma improdutividade angustiante.
Desde terça-feira, quando sofri um pequeno acidente, não posso me movimentar como o habitual. As escadas do Campus do Vale tornaram-se um desafio quase maior que o final de meu penúltimo semestre de faculdade. Mas para lá me fui...Mesmo cheia de dores e parecendo Saci-Pererê, eu cumpri minhas obrigações universitárias.
Dissertei largamente sobre Alain Robbe-Grillet e Sartre, tudo, obviamente, em francês. Nem sei como consegui, já que a dor era um fator gerador de desconcentração.
Quando voltei, meus tendões estavam duas vezes mais inchados comparados ao  momento em que botei o pé para fora de casa (Ô trocadilho cretino!) risos.
Só me restou a resignação dos enfermos. Deixar que façam por mim, as tarefas mais triviais, como servir um prato de comida, arrumar a cama e etc...

Mudando de assunto...
Às vésperas das férias julhinas, tenho esperado ansiosamente por momentos de descontração. Quero visitar a exposição comemorativa ao centenário de nascimento de Nelson Rodrigues, quero conhecer o Museu do Ipiranga, quero caminhar pelo Parque Trianon, quero tomar café na Starbucks...
Preciso me evadir dos problemas acadêmicos por alguns dias, pois quando voltar à Porto Alegre,será para o último round de uma luta que parece jamais acabar.  A formatura.
Sim, eu vou me formar! Nem eu acredito, mas o sonho está se concretizando dia após dia. Meus créditos complementares já foram contados, meus estágios aproximam-se do final. É uma sensação de dever cumprido e niilismo "au même temps". Não saberia discurzivizar este fechamento de ciclo pelo  qual atravesso.

Pour finir...
Tenho mais um motivo para extravassar felicidade. Estou emagrecendo!!! Hoje percebi a necessidade de ajustar minhas calças. A emoção foi forte!
Agora só falta resolver meus problemas com a cutis, que anda pra lá de ruim...
Aí, então posto uma foto com o antes e depois da Dani, ex-Free-Willie, ex-Choquita!!!

Eu volto!

Bj

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Autocontrole


Que época bunda-mole esta nossa! Elegemos como principal virtude justo a mais medíocre
Faz mais ou menos um mês, ouvi uma mulher dizer que nunca iria a uma nutricionista gorda. Semanas depois, um amigo demonstrou preocupação ao descobrir que seu psicanalista fumava. Segundo eles, ao que parece, não pode cuidar da dieta ou da ansiedade alheia quem não controla os próprios impulsos.
Ah, que época bunda-mole a nossa! Elegemos como principal virtude justo a mais medíocre: o autocontrole. Foi-se o tempo em que o herói era aquele capaz de romper as amarras sociais, morais, históricas. De enfrentar o mundo em nome de um ideal ou de dar um piparote nas sentinelas do superego em busca de seu eu profundo.
O Super-Homem atual é o que, avaro com os prazeres, melhor consegue inserir-se nos escaninhos disponíveis do mundo. É um profissional bem-sucedido e com barriga de tanquinho. Seus feitos não serão medidos pelas marcas deixadas na história, mas pelo extrato da conta bancária e pela taxa de colesterol.
Não falo de fora. Sou filho da época, também tento enquadrar-me neste anódino "zeitgeist", de sonhos tão mirrados como as cinturas de nossas divas: sou funcionário esforçado, corro na esteira, acredito nos poderes milagrosos da quinua. Quando ponho a cabeça no travesseiro, contudo, envergonho-me e lamento a grandeza perdida.
Outrora buscávamos a nascente do Nilo, a verdade última das coisas, nos metíamos no mato sem cachorro, em mares nunca dantes navegados, nos entregávamos a amores e substâncias proibidas atrás de paraísos naturais ou artificiais. Agora, aqui estamos nós, usando 30 séculos de conhecimento acumulado para vender mais pasta de dentes, mais jornais, empenhados em descobrir como fazer dez arruelas ao custo de nove e receber uma promoção; aqui estamos nós, reinando sobre a natureza, mas comendo barrinhas de cereais.
Onde foi que nós erramos? Em que beco escuro do século 20 um Mefisto chinfrim sussurrou em nossos ouvidos que alcançaríamos a vida eterna caso abríssemos mão de nossos corações em nome do "sistema cardiovascular"? Que bizarra inversão foi essa que nos fez acreditar que a função das comidas é facilitar o trabalho do sistema digestivo, e não que a função do sistema digestivo é lidar com nossas comidas? Desculpem por ser chulo, caro leitor, mas eis a ambição de nossa triste humanidade: fazer um cocô durinho.
Veja, acho bom que haja campanhas contra o cigarro. Que o exercício físico venha se tornando um hábito mais e mais comum. A vida é curta e preciosa demais para que a atravessemos com pigarro e sem fôlego. Mas é curta e preciosa demais também para ser gasta nesta liberdade (auto) vigiada, em que o prazer e a poesia são drenados a cada dia pelos ralos da eficiência.
Não creio em nada para além do último suspiro, mas ficção por ficção, sou mais Dionísio e São Francisco  do que esse culto desvairado pela bicicleta ergométrica, o Excel e a fenilalanina.
Bichos burros! Indo do berço ao túmulo agarrados às certezas mais tacanhas e permitindo-nos o mínimo de prazer, o grande legado de nossa época será belíssimos, saudabilíssimos cadáveres -injustiça, aliás, com as minhocas, que não estão preocupadas com o colesterol nem com suas anelídeas silhuetas.


Antonio Prata

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Quieta

Na sexta-feira de temperatura polar que findou há poucos instantes, tive oportunidade de praticar uma das minhas modalidades preferidas de existir, como diz Stella Florence: Fiz silêncio.
Sim, eu passei praticamente o dia inteiro muda, ouvindo atentamente apenas o barulho assombroso que provém de mim.
Lembrei de muitas pessoas que por minha vida passaram, senti saudades de algumas que jamais retornarão. Repensei certas decisões. Dei o troco com meu silenciamento, aos desprezos que sinto vez por outra.
Faz relativamente pouco tempo que aprendi que calar é uma das maiores vinganças que um ser humano pode executar. Eni Orlandi já metralha há muito sobre o peso do silenciamento. Todavia, como bálsamo para alma, o poder da ausência dos discursos  muito lentamente foi sendo compreendido/apreendido por/em mim.
A experiência do vácuo no/do dizer só tomou forma prática em minha vida, depois que M. me ensinou a falar silenciando, mostrar escondendo e dizer não dizendo.
Provavelemente, ele jamais tenha ouvido algo sobre não-ditos, ditos, e outras nomenclaturas típicas de filósofos e analistas de discursos, porém, a forma como se movimentava por entre os vazios de palavras faladas e escritas é algo que sempre me quedou apaixonda.
Em meu estado atual, é deveras fácil lembrar das excentricidades comportamentais de M. Contudo, na época em que experimentava a lição prática de tudo aquilo que havia sofregamente lido e estudado, penei bastante. Foi uma dor necessária, que me trouxe a possibilidade de reflexão.Tudo culminando neste excerto que separei para uma gélida e medidativa sexta-feira.
Não quero mais machucar ninguém, por isso, à noite, as palavras voltaram a produzir som em mim. Abandonei minha reclusão, tomei um chá, comi biscoitos e tornei a permitir que os barulhos façam parte da sinfonia daquilo que me faz quem sou.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Ser Sansão traz sanções...

Ando me sentindo uma espécie de "Sansão de saias". De repente, cortei as madeixas e perdi meus superpoderes. Para as classes C, D, E, F, G...mulher bonita tem que ter cabelão. Fato. Daí meu atual desprestígio na hora de embarcar no coletivo, fazer a feira, pagar prestação das Casas Bahia...
Se antes eu era frequentemente observada, paquerada e até cantada, agora já não posso dizer o mesmo.
Tá certo, seria melhor se eu simplesmente tivesse escolhido dede o início o papel de 'Rapunzel Vintage'. Ocorre que não resisto aos desafios e sempre fui precocemente antagonista de mim mesma. Ademais, não tenho perfil de mulher-fruta, tampouco uso coloração articial ou descolorante . E ainda -  minha região glútea carece de atrativos, coisa que tenho de sobra pelas áreas do lobo-frontal. Mas afinal, quem quer saber?!
Deixando de lado minhas reminiscências, a verdade é que mulheres vanguardistas apavoram. Calma! - Eu sei que muitos saltarão no meu pescoço, afirmando que atitude não é questão circunscrita a um mero corte de cabelo. E não é mesmo.
Entretanto, em um mundo regido pelos moldes e modelos humanos, sobretudo as famosas modelos gaúchas que também me enchem de orgulho, arriscar no contexto e descontextualizar a própria aparência é deveras perigoso. Mas é gostoso! La Bünchen que me perdoe. Sou contra a sacralização capilar feminina.
E como de louca e de porra-louca todas nós temos um pouco, paguei para ver, como diz meu namorado. Literalmente dei minha cabeça a prêmio. A maioria do público feminino disse gostar (dando-se os devidos descontos ao cinismo, uma quase regra entre nós muiéres).
Talvez, o maior inconveniente do visual joãozinho seja o frio na nuca. Porém, isso não me é problema, visto ser possuidora de um arsenal de mantas, cachecóis, lenços e etc. Enrolo o pescoço, jamais me deixo enrolar, mesmo que os panos apenas me protejam, não quero cobrir meu EU.