domingo, 24 de julho de 2011

Oito estrelas são o infinito


Oito estrelas são o infinito.

Foi a partir de uma sucessão de finitudes que compreendi do que é composto o infinito. Expectativas, sonhos, frustrações, tropeços e recomeços.

Oito estrelas são o infinito.

E do que chamam infinito, as estrelas não pude enxergar. Talvez, para mim, ainda estejam demasiado distantes, o que não significa sejam inatingíveis.

Oito estrelas são o infinito.

Seja para matemática, filosofia ou astronomia, para mim o mais específico é nesse dizer estar implícito um amontoado de subentendidos. Não saber por onde tudo se inicia, qual direção se segue e onde tudo irá finalizar. Seria, pois, um ciclo, um percurso linear, uma descoberta a cada ponto de encontro dos eixos que compõe nossas vidas???!!! Deixaríamos de ser cartesianos em nossos sentimentos para nos tornarmos descobridores de uma mistureba simbiótica e por isso mesmo absolutamente fantástica e maravilhosa!

Oito estrelas são o infinito.

Peço perdão por não atingir o que para mim é inatingível, por não conseguir tocar o intangível, não atinar com o impossível. Tentei, mas minha demência já alastrou-se tonando-se óbice.

Oito estrelas são o infinito.

A beleza de uns, a feiúra de outros. Fugacidade e eternidade. Efêmero em ocorrência, invariável em prosseguimento desembocando em sofrimento. Mas ainda bem que as estrelas são oito e brilham, reluzem, oferecem possibilidades inumeráveis. Afinal, o infinito é infinitivo. Começar e terminar é imperativo!

sábado, 23 de julho de 2011

Tentando

Noite de sábado e eu sentada em frente ao computador. Não era o que desejava, mas diante dos últimos acontecimentos este exercício de ressignificação faz-se imperativo.
Não posso ignorar minhas chagas, esconder minhas dores, apagar de dentro de mim sentimentos tão genuínios. Não quero que assim seja. Preciso me organizar e isto só virá a custa de tempo, purgação e reelaboração de experiências. Fácil não tem sido. Cada dia, uma etapa a ser vencida, cada sorvida de ar aos pulmões, uma vitória por constatar que ainda estou viva. Muitos sentidos esvaíram-se, foram com a correnteza de alguns sentimentos. Eu não desejava que tanto do que me compõe tivesse escorrido como água de minha torrente interna. Entretanto, ainda há em mim uma nascente de amor. Ainda existe uma pessoa que não quer calar suas pulsões, porém, não me é dado a escolher. Meus propósitos foram interropmidos, minha trajetória foi em certo ponto extinta. Não adiantaria usar de rebeldia. É como se lutasse contra moinhos de vento, e todos nós sabemos qual foi o fim de Quixote. Não invejo sua melancolia tragicômica.
Mas será minha atualidade trágica ou cômica?
Em um primeiro exame, talvez afirmasse resolutamente que estou no meio de um turbilhão trágico de afetividades. Sofro por dentro e até por fora. Minhas defesas estão abertas, tenho tido terríveis dores de cabeça, a dispepsia me assola todas as noites. Sou a tradução da dor. Meus olhos deixaram de brilhar, meu sorriso subitamente apagou-se.
A banda cômica de minha narrativa ( com significação de surpresa) fica por conta dos presentes de carinhos inusitados que tenho desinteressadamente recebido. Algo completamente fortuito para mim. Jamais pensei que certos acasos ainda fossem se precipitar. Conforta saber que existe motivo, existe altruísmo, existe ternura.
É...A vida não acontece como planejamos, não segue como desejávamos, mas não quer dizer que o universo ao seu redor esteja estanque. Tudo segue, segue, segue.
Hoje, após o banho olhei meu rosto detidamente. Não faço isso há considerável tempo para  mulher vaidosa que sou. Observei a machucadura em minha testa. Faz pouco, sangrava e encontrava-se inchada. Agora está quase imperceptível. Cicatrização praticamente completa. Então, de imediato lembrei de meus padecimentos interiores, minhas feridas ainda tão vivas! Quanto tempo levarão para ficarem curadas?!
Refleti. Uma lágrima impertinente escorreu pelo meu olho direito, semelhante a que resvala sobre minha tez neste insólito momento. É difícil e ninguém jamais afirmou o contrário. Há um eco em meu ser, um eco de palavras maldosas, de condenação, de culpa.
Meu apego é no amor, só que agora no amor que possuo e não naquele que perdi ou jamais tive. Sigo. O que tenho em mãos é precioso e nunca irei me desfazer da dádiva da vida, do presente do amor, da doação singela.
Aprendo uma lição de tudo que venho passando. Hoje reconheço o valor do que tenho e embora sofra, uma certeza de que os dias trarão minha melhora é o que me mantém!
Abraços

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Aumente sua delicadeza

As mais duras agressões não provocam hematomas, ocorrem em nome da sinceridade. O amor é confundido com pancadaria.

Tempo é ternura

Viver tem sido adiantar o serviço do dia seguinte. No domingo, já estamos na segunda, na terça já estamos na quarta e sempre um dia a mais do dia que deveríamos viver. Pelo excesso de antecedência, vamos morrer um mês antes.

Está na hora de encarar a folha branca da agenda e não escrever. O costume é marcar o compromisso e depois adiar, que não deixa de ser uma maneira de ainda cumpri-lo.

Tempo é ternura.

Perder tempo é a maior demonstração de afeto. A maior gentileza. Sair daquele aproveitamento máximo de tarefas. Ler um livro para o filho pequeno dormir. Arrumar as gavetas da escrivaninha de sua mulher quando poderia estar fazendo suas coisas. Consertar os aparelhos da cozinha, trocar as pilhas do controle remoto. Preparar um assado de 40 minutos. Usar pratos desnecessários, não economizar esforço, não simplificar, não poupar trabalho, desperdiçar simpatia.

Levar uma manhã para alinhar os quadros, uma tarde para passar um paninho nas capas dos livros e lembrar as obras que você ainda não leu. Experimentar roupas antigas e não colocar nenhuma fora. Produzir sentido da absoluta falta de lógica.

Tempo é ternura.

O tempo sempre foi algoz dos relacionamentos. Convencionou-se explicar que a paixão é biológica, dura apenas dois anos e o resto da convivência é comodismo.

Não é verdade, amor não é intensidade que se extravia na duração.

Somente descobriremos a intensidade se permitirmos durar. Se existe disponibilidade para errar e repetir. Quem repete o erro logo se apaixonará pelo defeito mais do que pelo acerto e buscará acertar o erro mais do que confirmar o acerto. Pois errar duas vezes é talento, acertar uma vez é sorte.

Acima da obsessão de controlar a rotina e os próximos passos, improvisar para permanecer ao lado da esposa. Interromper o que precisamos para despertar novas necessidades.

Intensidade é paciência, é capricho, é não abandonar algo porque não funcionou. É começar a cuidar justamente porque não funcionou.

Casais há mais de três décadas juntos perderam tempo. Criaram mais chances do que os demais. Superaram preconceitos. Perdoaram medos. Dobraram o orgulho ao longo das brigas. Dormiram antes de tomar uma decisão.

Cederam o que tinham de mais precioso: a chance de outras vidas. Dar uma vida a alguém será sempre maior do que qualquer vida imaginada.
 
Fabrício Carpinejar

terça-feira, 19 de julho de 2011

domingo, 17 de julho de 2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Fotografia

                                                             Foto de Elliot Erwitt
  "(...) já está no terreno de quem pensa que tudo o que não é fotografado é perdido, que é como se não tivesse existido, e que então para viver de verdade é preciso fotografar o mais que se possa, e para fotografar o mais que se possa é preciso: ou viver de um modo o mais fotografável possível, ou então considerar fotografáveis todos os momentos da própria vida. O primeiro caminho leva à estupidez. O segundo, à loucura.
Trecho do conto “A aventura de um fotógrafo”, de Ítalo Calvino.

E ainda por cima é bonito!



“Não sou cantor, não sou músico, não sou poeta, não sou ator, não sou filósofo, não sou apresentador de TV, não sou radialista, não sou jornalista. Sou um compositor, na medida em que “compor” é juntar coisas”.
Paulinho Moska

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Frédéric Chopin-Tristesse



Se você não quer ir às lágrimas, não ouça! Mas, a música é verdadeiramente, LINDA!

Chopin - Concerto pour piano N°2 - 2ème mvt (1/2) -



Esta música é simplesmente SUBLIME! Dá arrepios!!!

Beethoven. Egmont Overture - Lorin Maazel, New York Philharmonic


Beethoven escreveu Abertura Egmont, de outubro de 1809 a junho de 1810, para acompanhar Egmont, drama em cinco atos escrito por Goethe. A peça de Goethe conta a luta dos Países Baixos, liderada pelo Conde Egmont, contra a ocupação espanhola. É um tema que opõe tirania e liberdade, questão crucial para o espírito de Beethoven.
Com início sombrio, comunica profunda opressão de espírito, com seu motivo inicial representando o tirano da peça. A seguir, o andamento aumenta, recaindo num Allegro vivaz conduzido pelos cellos; e ouve-se à confiança e à contestação do herói Egmont, no emaranhado da batalha pela liberdade. O tema introdutório é desenvolvido por toda a orquestra, tornando-se mais e mais rítmico e sombrio até se ouvir a morte do herói. A seguir, o caráter da música torna-se festivo e triunfante, as cordas em suas notas mais agudas com o brilho do som do piccolo. A morte não é um fim quando ideais permanecem vivos.Program Notes © 2007 by Eduardo Knob

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim
que amava Lili que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se
E Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história. 


Carlos Drummond de Andrade

Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.





Fernando Pessoa