sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ex...

Sou uma ex-pacífica, ex-resignada, ex-patética. Durante relativo tempo neguei minha natureza belicosa.
Porém, há alguns meses, un bouleversement iniciou dentro de mim. Fui deixando de ignorar meus quereres. Comecei, lentamente a me reencontrar.
Desde criança eu não me colocava de maneira pontual, diante de algumas pessoas e situações. Esse comportamento errôneo e destrutivo foi soterrando quem eu era, me descaracterizando por completo. Foi tão forte, que em um dado momento já não sabia mais o que queria ou esperava.
Em meio a várias experiências negativas,  fui atinando que o mais importante no final das contas era EU.
Não nego que das primeiras vezes em que fiz valer meu posicionamento, não tenha sido doído. Entretanto, depois que a situação se conformou à minha escolha, o alívio foi insuperável.
Estou confiante no caminho que tomei.
O mais estranho é olhar para trás e já não mais me reconhecer.
Ontem, no intervalo de minhas leituras, dando uma espiada na internet encontrei fotos de pessoas que há muito não vejo. Nossa! Foi surpreendente olhar para aqueles rostos e desconhecê-los quase por completo. É gente que significou demais na minha vida e que atualmente, não tem nenhum sentido, seja de amizade ou qualquer outro vínculo. Transformaram-se em sombras, como se uma bomba atômica tivesse os destruído. Não restou nada, nem amizade, nem carinho, nem ressentimento, nem mágoa. NADA.
E tal qual o fim de uma procela, agora é o momento de reconstruir tudo. Criar uma nova morada, fazer diferente. Até aqueles que comigo caminhavam mudaram. Sepultados meus mortos, é hora de dar voz aos vivos.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Mau-humor

Ando mal-humorada nestes últimos dias. Talvez seja devido a  este calor senegalês que tem feito em todo o Rio Grande do Sul...fato é que nada me agrada. Nem banho gelado, nem sorvete, nem presente, nem sorriso algum.
Incrível como o clima pode influenciar as nossas vidas! Tenho um monte de coisas para fazer no meu cotidiano, porém, tudo fica prejudicado diante de uma temperatura inclemente como a do sul durante o verão, pelo menos para mim.
Acordo e sinto o bafo do sol que brilha lá fora, e logo começa minha contrariedade. Não consigo me concentrar nas leituras que preciso fazer, também tenho dores de cabeça inomináveis.
Não quero acreditar que minha revolta tenha outras razões, não aceito que a lacuna se transforme em poça, seja d'água ou dor.
A esperança que me nutre é a certeza de que em questão de dias, tudo estará terminado.
Outra estação virá e minha saúde física e emocional há de ser restaurada.
Que os ventos soprem!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A vírgula

Existe um poema de Lord Byron criado por volta de 1800 cujo título é Não Mais Passearemos.
Em certa estrofe do poema ele constrói a seguinte frase: "chega um instante em que o coração precisa tomar fôlego e o amor enfim, descansar." Embora todo o poema seja admirável o que mais nele me fascina é esta vírgula após a palavra enfim. Acho que nunca -em tudo que já li- encontrei uma vírgula tão perfeitamente colocada e capaz de dar ao verbo a respiração exata para seu simbolismo de repouso.
Lembrem que quando a maioria não sabia ler as poesias eram feitas para serem ouvidas.
Graciliano escreve praticamente sem vírgulas do mesmo jeito que Herbert Marcuse também era econômico com elas. Já Vinicius de Moraes abusava delas.
Embora não seja exatamente um consagrado escritor eu vivo das palavras como profissão e de mim já disseram que trabalho com um balde de vírgulas ao lado do note book e de vez em quando jogo um pouco delas sobre o monitor. Depois que ouvi esta avaliação passei a prestar mais atenção no uso das vírgulas e a frase do poema de Byron tornou-se mais constante em meu pensamento.
A vírgula existe para ser usada ao bel prazer de quem escreve ou existem normas que regulem
a sua aplicação? O corretor ortográfico do Word vive nos dizendo que não se separa com vírgula o verbo do sujeito. É uma regra. Mas em determinados momentos a separação parece indispensável tal a necessidade de darmos destaque à ação que se descreve.
Eu acho que a vírgula traz para o texto a maneira de falar de quem escreve. Algumas pessoas falam através de frases curtas e para elas basta um ponto de seguimento. Outras falam longamente e fazem suas pausas para respirar com uma interjeição qualquer e prosseguem falando. A prosa do nosso notável antropólogo e sociólogo Albergaria é algo assim. Sem vírgulas.
Também este texto está escrito até aqui sem que eu tenha utilizado uma única vírgula à exceção daquela citada na frase do poema de Byron. Será que este texto é melhor sem as vírgulas que se eu tivesse usado o meu balde? Não sei. Oscar Wilde disse que não existem livros bons ou livros ruins. Existem livros bem escritos ou mal escritos. Eu gosto de vírgulas embora perceba que já não uso um balde cheio delas e sim um simples copinho descartável de café. Mas me atrevo sempre que julgo necessário a separar o verbo, do sujeito.
A Interrogação
"E se você dormisse, e se você sonhasse, e se no sonho você fosse ao Paraíso e encontrasse uma rosa, e colhesse uma rosa, e se você acordasse e a rosa estivesse em suas mãos, e então?" Esta pergunta é famosa na literatura e é conhecida como A Questão de Coleridge, poeta que a formulou. O que faz uma interrogação no meio de um texto?

Ela chama a sua atenção para algo importante que em seguida será explicado por que está escrevendo. Ou não. Algumas interrogações se dão ao luxo de não apresentarem qualquer resposta em seguida, assim como a vida tanto costuma fazer conosco. São interrogações colocadas alí para que o próprio leitor pense sobre ela e descubra uma resposta.

Interrogações deste tipo são como determinadas mulheres que ao passarem por você te lançam
um olhar penetrante como um punhal, porém não diminuem o passo e muito menos olham para trás pelo canto do olho para ver a sua reação. E qual é a sua reação? Volta e tenta falar com a interrogação que passou ou segue em frente com ela na cabeça? Aí complica, pois a reação de cada um diante de uma interrogação que passa sedutora depende de coisas que remontam à infância e nem adianta apelar para Freud, pois que ele sempre costumou deixar mais interrogações que respostas, embora todos não hesitem em afirmar: Freud explica.
Em certo momento, questionado sobre o havana que trazia constantemente aceso entre os dedos, ele proclamou: um charuto às vezes é apenas um charuto. Explica?
A Reticência -
Existe uma entre as tantas historinhas que são criadas o tempo todo para terminarem com um ensinamento, pela qual eu tenho uma certa simpatia. Acho que tenho, pois nunca esqueci dela enquanto tantas outras foram direto do ato de ler para o alívio de esquecer. Ela fala de dois monges de uma religião tão absolutamente rígida quanto ao celibato a ponto de não permitir que seus seguidores sequer tocassem numa mulher. Pois bem. Estes monges, um mais velho e outro noviço, seguiam caminhando pelas margens de um rio orando em silêncio. Em determinado ponto do rio, encontram uma mulher que hesitava em atravessar as águas ligeiras e fortes da corrente para alcançar a outra margem.
O monge mais velho, ao perceber a sua ansiedade, não hesitou em tomá-la nos braços e carregando-a atravessou o rio deixando-a na outra margem. Sempre seguido pelo noviço, ele continuou sua caminhada silenciosa, até que não contendo mais a dúvida, o noviço alcançou
o monge mais velho e perguntou-lhe: "Mestre, aprendemos que nos é totalmente proibido tocar numa mulher e no entanto tu a tomaste em teus braços e a carregastes". O velho monge, sem diminuir o passo respondeu-lhe: "Carreguei aquela mulher apenas no instante que ela precisava para atravessar a correnteza. Tu a carregas até agora."
Acho que aí está uma reticência. Embora abolida por uma das nossas tenebrosas reformas ortográficas, a reticência sempre serviu para deixar no ar uma suspeita ou uma explicação
sem dizê-la diretamente. Uma forma talvez de fazer com que o outro se sinta responsável
pela compreensão daquilo que não foi dito. Raramente uso reticências. Sempre preferi ir até
o fim com o meu pensamento e da forma mais clara que posso. Talvez o fato de escrever textos publicitários me tenha levado a isto. Talvez eu seja assim mesmo. E isto é uma dúvida, não uma reticência.
O Silêncio
Há algumas semanas, quando arrumava uns recortes de jornais e alguns cadernos de cultura da Folha de São Paulo que insisto em guardar, encontrei uma matéria especial sobre Jorge Luis Borges, o escritor argentino falecido (morreu em 1986, em Genebra, aos 93 de idade e cego desde os 50) que me abriu as portas do pensamento livre e do realismo fantástico.
Tenho todos os seus livros, leio e guardo tudo dele ou sobre ele, pois "El brujo" sem dúvida foi o escritor mais importante do século XX. Nesta matéria está reproduzida uma carta escrita por Borges, onde em certo trecho ele diz: "Recorda-me uma moça a quem fiz a corte em Palma e da qual cada silencio era uma obra de arte".
Acho que o conceito borgiano de silencio concebido, trabalhado como uma obra de arte é de uma profundidade absoluta. Somente coisas especiais merecem obras de arte a respeito, sejam elas músicas, poemas, pinturas ou silêncios.
Como para quem escreve o silêncio é simplesmente não escrever, chegamos à conclusão que desde a primeira palavra deste artigo até aqui, tudo o que fiz foi um imenso ruído.

Artigo de autoria de Marco Gavazza

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Novo visual

Hoje fiz uma das coisas de que mais gosto: cortei meus cabelos rsrs
Estavam muito compridos e me causando agonia. Agora, além de repaginar o visual, vou poder economizar com shampoo e condicionador.
Se quiser conferir!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Deleuze e o amor

Arte das pessoalidades

Arte que explora a erosão e regeneração dos momentos fugazes pelos quais correm a existência.
Um dia qualquer, um momento fugaz , um vestido vermelho. Os pormenores da vida, seu cotidiano e seus objetos fazem a arte de Christina Foard, que personifica elementos inanimados e coisas particulares, nos quais acredita residir a energia e legado de uma vida.
"E eu que pensei que essa piração fosse de exclusividade minha rsrsrs".

 Por Rejane Borges

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Cuidado com o que você deseja!

O ditado popular prega que Deus escreve certo por linhas tortas, porém, particularmente acredito que Ele  também escreva torto em linhas tortas.
Eu sou a paga de um desejo imprensado, de uma atitude irrefletida e talvez por isso, meu maior temor hoje em dia, seja o de querer algo que a mim não compete, não me sendo de direito.
Vou contar uma historinha que ilustra o que eu estou querendo dizer.
Há muitos anos, uma mocinha bonitinha e vazia de conteúdos intelectuais se apaixonou por um moço ambicioso e um bocado maior que ela em questões de pensar. Algum tempo depois, o previsível aconteceu. Ele alçou voos mais amplos e ela ficou em completo desconsolo, perdida em sua pequenez.
Posto que fosse uma pessoa de visão um tanto oblíqua da vida, a graciosa moça viu-se amargurada com a perda do amado, que para ela, e só para ela, ocorreu de forma abrupta.
Seu coraçãozinho e sua alma diminuta clamavam por preenchimentos. Então, a moça apostou em sua arma mais valiosa: sua beleza.
Tratou de seduzir e inebriar com seu charme, o primeiro que consigo cruzou. Em verdade, pouquíssimos homens eram capazes de resistir a seus encantos que mesclavam meiguice, plástica facia e corporal perfeitas, parvice e subserviência.
Durante os primeiros meses de seu novo envolvimento, a bela sentiu-se confortável e seu "parceiro-unguento", por sua vez, julgou-se um homem de sorte. Todavia, esta situação pouco durou. Em seguida, começaram as crises de caráter, inveja, as discrepâncias culturais e nossa personagem viu seus dias de desafogo transformarem-se em terror "full time".
O ponto culminante de toda trapalhada criada por esta mocinha, foi uma gravidez indesejada.
Apesar do pânico inicial, resolveu trazer ao mundo sua descendência e a ela se dedicar. Enquanto estava grávida, visto ser muito religiosa, a moça bonita desejou que seu filho (na época não era possível saber o sexo da criança de antemão), fosse saudável e inteligente. Leia-se com tal pensamento expresso em vontade, que fosse mais esperto que ela -a mãe, já que julgava-se "perdedora" por não possuir educação formal e sabedoria compatíveis com o que outrora almejou.
Pedido feito, desejo realizado.
Ela teve uma filha saudável, de beleza mediana e grande argúcia.
Entretanto, logo principiou-se uma batalha por vezes pontuada de gritos reivindicatórios e, em outras situações, plena de silêncios recheados de ódio e ressentimento. Um cenário ruim  trazendo à tona precário relacionamento afeitvo entre mãe e filha. A criança era voluntariosa, egoísta e portadora de uma revolta de origem desconhecida por si e por sua genitora. Menina afeita à solidão, sua "bonequinha" passava longas horas a tecer monólogos enormes. Avessa a questões sociais, onde houvesse mais de duas crianças em sua companhia, de pronto se retirava.
A mãe nunca soube como agir, nem o que dizer, pois a menina era a antítese de tudo que ela havia pensado de um filho, especialmente em se tratando de uma menina. E o tormento prosseguiu conforme os anos se sucederam. Problemas neurológicos e psicológicos seguidos de testes e mais testes para desembocar-se em lugar nenhum e ter qualquer resposta que fosse diante das indagações face a um comportamento esdrúxulo.
Ao final da história, tudo o que a doce menina bonita do início da narrativa conseguiu fazer de sua vida, foi transformá-la em um amontoado de erros, estendidos aos que com ela convivessem.
A filha tornou-se uma adulta desnorteada, verdadeira bomba-relógio emocional. Instável demais, e apesar da boa capacidade mental, completamente perdida em questões atinentes ao que fazer consigo mesma.
A mãe, como forma de desculpar-se, saiu culpando todos que a cercavam no que tange a seus infortúnios. Todos se tornaram algozes, todos a maltrataram. Em sua soberba opinião, jamais reconheceu ter agido com qualquer tipo maldade, fossem estas irrustidas ou deflagradas. Restou pouco à filha. Restou tão pouco que a única atitude que ela tem da parte de sua mãe atualmente, é a indiferença.

Moral da história: Deus pode escrever torto, se você não lhe oferecer um bom caderno de caligrafia.
Por isso digo: "Bem-aventurados aqueles que sabem o que querem para suas vidas e quando ousam pedir algo a Deus, o fazem com sabedoria, pois não acrescentarão dores aos que não pediram para neste mundo  estar."

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes

A quarta mesa do Seminário Ciência e Tecnologia no Século XXI, promovido pelo ANDES-SN de 17 a 18 de novembro, em Brasília, debateu o “Trabalho docente na produção do conhecimento”. As análises abrangeram tanto a produção do conhecimento dentro da lógica do capitalismo dependente brasileiro, até o efeito do produtivismo acadêmico na saúde dos docentes.

Participaram dessa mesa, o ex-presidente do ANDES-SN e professor do departamento de educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher; a assistente social e também professora da UFRJ Janete Luzia Leite; e a professora visitante do curso de pós-graduação em serviço social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Maria Ciavatta.

Leher iniciou sua fala lembrando que a universidade brasileira, implantada tardiamente, tem sua gênese na natureza do capitalismo dependente brasileiro. E é essa matriz que vai determinar o conhecimento gerado academicamente. “Também não podemos esquecer que a produção do conhecimento tem sido re-significada. Hoje, não há mais a busca da verdade, mas, sim, a sua utilidade. Sem contar que o conhecimento é uma forma de domínio, como já disseram Kissinger, Fukuyama e Mcnamara”, argumentou.

“Diante disso, está fora de lugar a perspectiva de que a universidade tem um caráter iluminista. Àquela aura do professor universitário intelectual não mais se sustenta”, constatou.

Para Leher, antes havia a valorização da cultura geral, em que era comum encontrar um físico escrevendo sobre arte. Essa ideia, no entanto, não ocorre mais na universidade submetida à lógica utilitarista e pragmática. “É a expropriação do trabalho acadêmico”, criticou.

No Brasil, esse processo foi iniciado com a ditadura militar, que centralizou no Ministério do Planejamento os programas de apoio científico e tecnológico. Como o governo precisava direcionar a inteligência na perspectiva desenvolvimentistas do país, mas queria silenciar a universidade, passou a utilizar-se dos editais para direcionar as pesquisas.

Desde então, mas, principalmente, a partir de 2000, a maioria dos recursos destinados à pesquisa foram se deslocando para o que passou a ser chamado de inovação. A hipótese de Leher é de que como Brasil é dependente e como os doutores formados nas universidades não conseguem empregos na iniciativa privada, a universidade está sendo re-funcionalizada para fazer o serviço que as empresas não querem fazer.“Isso se dá nas ciências duras, mas também nas ciências sociais. É o que explica, por exemplo, o tanto de editais para formar professores à distância, ou para fazer trabalho nas favelas. É a universidade oferecendo serviços”, exemplificou.

“Diante dessa pressão em oferecer serviços, em produzir, o professor que levar dois anos para concluir um livro é expulso da pós-graduação”, denunciou Leher.

A saída para essa situação está na aliança do movimento docente com os movimentos populares. “Ao contrário do que ocorreu em épocas anteriores, em que parcelas
 populares. “Ao contrário do que ocorreu em épocas anteriores, em que parcelas da burguesia apoiaram projetos de uma universidade mais comprometida com os povos, hoje eles estão preocupados em inserir cada vez mais a instituição na lógica do mercado”, constatou. “Temos, portanto, de construir um arco de forças políticas no movimento anti-sistêmico, ou seja, com movimentos como a Conae e o MST”, defendeu.

Esse diálogo vai exigir da academia, no entanto, um esforço epistemológico e epistêmico. “Se queremos o MST como aliado, por exemplo, temos de produzir conhecimento que trate, por exemplo, da agricultura familiar”, argumentou.

Qualidade no ensino
A professora Maria Ciavatta também criticou o produtivismo  acadêmico ao qual estão submetidos os docentes universitários. “Numa recente publicação do ANDES-SN, li a seguinte frase, que reflete muito bem o atual estado em que nos encontramos: ‘antes, éramos pagos para pensar, agora, somos pagos para produzir’. Achei essa definição ótima”, afirmou.

Ciavatta argumentou que a baixa qualidade do ensino decorre, diretamente, da insuficiência de recursos, responsável pelos baixos salários pagos aos professores. Disse, também, que o Brasil não tem políticas públicas para educação, mas programas de governo.

Ela criticou veementemente o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico) do governo federal. “O discurso é o mesmo dos anos 90, de que precisamos treinar os jovens pobres porque eles precisam de trabalho. Ocorre que esses jovens, por não saberem o básico, também não aprenderão nada nos cursos técnicos”, previu.

“O que temos de defender é a universalização do ensino médio público, gratuito, de qualidade e obrigatório. Temos de responsabilizar o Estado nessa questão”, defendeu.

Ciavatta criticou a banalização do termo pesquisa. “Todos os professores têm de ser pesquisadores, quando, na realidade, a pesquisa científica exige um tempo para pensar”, argumentou. “A pesquisa é encarada como toda E qualquer busca de informação”, constatou.
Após citar os artigos da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que tratam da pesquisa, ela apontou a baixa qualidade do ensino como um empecilho. “A sofisticada proposta da LDB não se faz com alunos semi-analfabetos. Não basta a alfabetização funcional de muitos e a especialização de poucos. A inovação requer a generalização da cultura científica”, diagnosticou.

Para Ciavatta, a privatização das universidades públicas, com a criação de cursos pagos, se deu a partir do achatamento salarial dos anos 90, o que acarretou maior carga horária dos professores, precarização das relações de trabalho, produtivismo induzido e  individualismo.  “Sou de uma época em que líamos os trabalhos dos colegas. Hoje não temos mais tempo”, lamentou.

A eficiência prescrita e o produtivismo induzido limitaram, segundo ela, a democracia e a autonomia da universidade.

Para a pesquisadora, o viés positivista e mercantilista é que está pautando a produção do conhecimento. “O direito à educação está sendo substituído pelo avanço do mercado sobre a educação, que está sendo vista como um serviço”, afirmou.

Saúde dos docentes
 O produtivismo acadêmico está tirando a saúde dos docentes das universidades públicas brasileiras. Essa é a principal constatação feita por estudo da professora do curso de Serviço Social da UFRJ Janete Luzia Leite. “Antes, a docência era vista como uma atividade leve. Agora, está todo mundo comprimido”, afirmou.

A causa dessa angústia está na reforma, feita em 2004, na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Aliada ao Reuni, as mudanças na Capes foram um verdadeiro ataque à autonomia universitária”, denunciou.

O resultado foi a instituição de dois tipos de professores: o pesquisador, que ensina na pós e recebe recursos das agências de fomento para fazer suas pesquisas e o que recebe a pecha de “desqualificado”, que ficou prioritariamente na docência de graduação e à extensão. Esses, em sua maioria, são recém-contratados e terão suas carreiras truncadas e sem acesso a financiamentos.

Para Janete, os atuais docentes estão formando em seus alunos um novo ethos, em que é valorizado o individualismo, ocultada a dimensão da coletividade e naturalizada a velocidade e a produtividade.

Há, também, um assédio moral subliminar muito forte, que ocorre, principalmente, quando o docente não consegue publicar um artigo, ou quando seus orientandos atrasam na conclusão do curso. “Com isso, estamos nos aproximando de profissões que trabalham no limite do estresse, como os médicos e motoristas”, afirmou.

O resultado é que os docentes estão consumindo mais álcool, tonificantes e drogas e estão propensos à depressão e ao suicídio. “É um quadro parecido com a Síndrome de Burnout, em que a pessoa se consome pelo trabalho. Ocorre como uma reação a fontes de estresses ocupacionais contínuas, que se acumulam”, explicou Janete Leite.

O problema, segundo ela, é que as pessoas acham que seu problema é individual, quando é coletivo, além de terem vergonha de procurar o serviço médico. “Com isso, elas vão entrando em suas conchas, temendo demonstrar fragilidades”.

Como forma de mensurar o nível de estresse dos docentes, a pesquisadora da UFRJ começou a fazer uma pesquisa nesse campo. Junto com um grupo de aluno, ela entrevista professores dispostos a falar de seus problemas.

“A primeira constatação que fiz é que as pessoas estão ansiosas para falar sobre seus problemas. Nossas entrevistas não duram menos do que uma hora e meia”, contou.

Já foi possível concluir que a atual realidade tem provocado sintomas psicopatológicos, como depressão e irritabilidade; psicosomáticos, como hipertensão arterial, ataques de asma, úlceras estomacais, enxaquecas e perda de equilíbrio; e sintomas comportamentais, como reações agressivas, transtornos alimentares, aumento de consumo de álcool e tabaco, disfunção sexual e isolamento.

Tudo isso, para Janete Leite, decorre da pressão atualmente feita sobre o docente. “O nosso final de semana desapareceu, pois temos de dar conta do que não conseguimos na semana, como responder e-mails de orientandos, ou escrever artigos”, afirmou.

Para ela, é preciso que haja uma reação dos docentes a esse processo. “Caso contrário, seremos uma geração que já está com a obsolescência programada”, previu.
   

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Seconds Of Beauty - 1st round compilation


Dê um segundo a você, um segundo à vida!

Seconds Of Beauty - 1st round compilation


Dê um segundo a você, um segundo à vida!

1 segundo

A grife Montblanc resolveu homenagear o relojoeiro francês Nicolas Rieussec com um desafio a profissionais ou amadores da imagem em movimento: demonstrar, em vídeo ou filme, a beleza em apenas 1 segundo. O vencedor ganhará um relógio no valor 57 mil dólares.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Three - 3 by Tom Tykwer | trailer US (2011) Sophie Rois Devid Striesow


Clichê absolutamente inevitável, todavia, absurdamente verossímil. A arte imitando a vida ou vice-versa?
Desisti de tentar entender...

Le Gamin au Vélo Trailer


Similaridades humanas. Distâncias diminutas, dores análogas.
C'est l'humanité! C'est sont les doleurs!

Sofisma

As brigas eram constantes e naquele dia os xingamentos eram proferidos em alto volume. O menino estava atordoado com a tensão do ambiente.
Subitamente, ele teve a ideia de começar a dar voltas ao redor da casa. Com seus pequeninos dedos comprimia a entrada de som em seus ouvidos. E corria, corria. Era o medo da discussão,o medo das palavras, o medo das reações, medo, medo, medo, medo. Quanto mais pavor sentia, mais corria.
De repente, os gritos cessaram. A pobre criança não sabia há quanto tempo o terror havia findado. Suas mãozinhas estavam arrochadas por tamanha força na pressão que objetivava a surdez, ainda que temporária.
E novamente ficou com medo. Será que seus pais haviam feito as pazes, ou estariam simplesmente mortos??
Certa feita, ele chegara a presenciar a insólita cena em que seu pai erguera a faca e a apontara na direção de sua mãe.
Agora estava ali, paralizado pelo pânico, sem saber se gostaria de tomar ciência do motivo do silenciamento abrupto. Enfim, decidiu verificar.
O pai estava sentado na cadeira da cozinha, de frente para a porta que dava para rua.
Ele perguntou por sua mãe, ao que o pai respondeu dizendo não saber o paradeiro.
Então, de pés descalços correu em direção ao portão, abriu-o e iniciou uma disparada sem rumo certo.
Corria, corria, não mais ao redor de sua casa, mas procurando por sua mãe.
Na primeira esquina, avistou-a de muito longe.
Ele era tão pequeno e seus pés estavam doídos, machucados pelos pedregulhos de uma via sem paviemtação.
Entretanto, decidiu que iria alcançar sua mãe. Pôs-se a correr mais. Correu, correu. Sua respiração já estava curta, suas perninhas principiavam uma espécie de cãibra.
Aproximando-se um pouco mais de sua mãe, começou a gritar para que o esperasse. No entanto, ela sequer virava para trás. E ele corria, corria, chorava e corria um pouco mais. Com o voz já um tanto enfraquecida ele empreendia gritos quase inaudíveis, verdadeiras súplicas. Queria ficar com sua mãe, queria poder segurar  sua mão.
Correu com o restinho de força que possuía e, então, finalmente alcançou-a.
Agarrou a mão morna e umidecida de lágrimas da mãe com força. Depois,  perguntou  por que ela não o  havia  esperado.
Escutou que não deveria estar ali e que melhor seria se jamais tivesse existido.
Aquelas palavras fizeram os pedregulhos do chão pinicarem nele com mais força. Pareciam cacos de vidro a causarem fissuras largas e  profundas, só que dessa vez em sua alma.Foi ela que sangrou.
Hoje o menino padece de hemorragia afetiva. Alguém pode suturar seu coração?