segunda-feira, 28 de março de 2011

AMEDEO MINGHI " VISSI COSI' "

Sign Your Name - Sananda Maitreya

Soneto do maior amor

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.


Vinicius de Moraes

A música das almas

Na manhã infinita as nuvens surgiram como a loucura numa alma
E o vento como o instinto desceu os braços das árvores que estrangularam a terra...
Depois veio a claridade, o grande céu, a paz dos campos...
Mas nos caminhos todos choravam com os rostos levados para o alto
Porque a vida tinha misteriosamente passado na tormenta.


Vinicuis de Moraes

segunda-feira, 21 de março de 2011

Identificação por amor

Era uma tarde de domingo quando nos encontramos. Nada diferente de tantas outras tardes. Nem um pouco pretencioso nosso primeiro contato. Não houve tentativas de impressionar, ser politicamente correto ou seja lá como queiram chamar.
Nosso amor foi e é assim. Sem muitas faces, pouco prismado, bem contemporâneo, sutilmente coloquial. Nada de estrondosamente fascinante. Nenhum capítulo sui-generis nos une, somente uma história leve e tão comum que poderia parecer até mesmo sem graça para alguns. Mas é exatamente na nossa espontaneidade que reside nossa verdade, principal característica de nosso relacionamento. Somos VIVIDOS mas não deixamos de ser VÍVIDOS. Nossas realidades são muito próximas, nossas histórias semelhantes, nosso sentimento análogo. Não posso afirmar que meu amor é sensaborão. Acredito que temos muito a partilhar, contudo, a tranquilidade rege nossas trajetórias unidas quase que prosaicamente.
Não preciso de adjetivos "fortes" para tecer aqui meu discurso. Não careço de dardos flamenjantes de paixão para sentir que há felicidade em nós. Somos calmaria e luz. Não é pouco poder amar e sentir o chão debaixo de seus pés. Não preciso mais preencher lacunas. Tenho múltiplas escolhas com você! Obrigada!

Identificação por dor

E doía... E foi assim que nos aproximamos, nos apaixonamos. Sem perceber que era o sofrer que nos unia,  nós nos colávamos, criávamos como que um decalque em nossas miseráveis almas.
Quando nos encontramos foi como se tivéssemos avistado um oásis, espécie de miragem borrada do que fosse felicidade. Não se pode afirmar que fomos realmente felizes, nós apenas nos aglutinamos pela dor. Sentimos juntos o que é padecer, estando "mortos em vida". Entretanto, houve determinado instante em que um de nós se cansou da tortura trágico-afetiva e se esgueirou pela fresta da vida comum.
E foi assim, fingindo ser FELIZ, NORMAL e COMPLETO que você se afastou de mim. Para sempre, eu creio. Você se estribou de vez em sofismas. Nunca mais voltou. Segregou-se neles. Nossa identificação não deixou de existir. Ainda nos comunicamos pela pulsação da angústia. Cada vez que a alegria se aproxima de mim, eu sinto você aqui dentro de meu coração, e então tudo volta a ser como um dia foi. A dor e o prazer se misturam e deixo de saber/entender aquilo que se passa tanto dentro quanto fora de meu ser.
Posso afirmar com toda a certeza deste mundo que nossa frequencia não mudou. Ainda vibramos ao soar dos mesmos acordes fuenstos. Nossas existências são lúgubres.
Sou teu instrumento de dor. Via de acesso à tua mágoa. Caminho irretornável. Dor irremediável.

sábado, 12 de março de 2011

Agulhas

As agulhas estão lentamente saindo de mim. Elas brotam em minha fronte, ao redor de meus lábios e até mesmo em minha língua. Descolam-se de mim querendo com elas carregar algo que jamais poderão levar.
Minhas agulhas não transportam minha dor, elas mudam a direção de minha agonia. Saindo de meu corpo físico, não desaparecem como por passe de mágica. Elas mostram-se aos "de fora", contudo, nada garante que não retornarão a seu espaço original, isto é, eu mesma.
Será que minhas agulhas são parte de mim, será que são eu mesma me desprendendo, me fragmentado, fragmentando minha dor???!!!
Peço desculpas! Não consigo ser diferente. Queria que meus acúleos metálicos não fossem tão nocivos aqueles que me cercam. Peço desculpas! Tento dar a ti tudo aquilo que te julgo merecedor, entretanto, as agulhas estão sempre a provocar minha angústia, assim, jamais sou boa, jamais sou sufiente, jamais sou plena.
Peço desculpas! Minhas agulhas não precisam ser tuas agulhas.