sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Sofisma

As brigas eram constantes e naquele dia os xingamentos eram proferidos em alto volume. O menino estava atordoado com a tensão do ambiente.
Subitamente, ele teve a ideia de começar a dar voltas ao redor da casa. Com seus pequeninos dedos comprimia a entrada de som em seus ouvidos. E corria, corria. Era o medo da discussão,o medo das palavras, o medo das reações, medo, medo, medo, medo. Quanto mais pavor sentia, mais corria.
De repente, os gritos cessaram. A pobre criança não sabia há quanto tempo o terror havia findado. Suas mãozinhas estavam arrochadas por tamanha força na pressão que objetivava a surdez, ainda que temporária.
E novamente ficou com medo. Será que seus pais haviam feito as pazes, ou estariam simplesmente mortos??
Certa feita, ele chegara a presenciar a insólita cena em que seu pai erguera a faca e a apontara na direção de sua mãe.
Agora estava ali, paralizado pelo pânico, sem saber se gostaria de tomar ciência do motivo do silenciamento abrupto. Enfim, decidiu verificar.
O pai estava sentado na cadeira da cozinha, de frente para a porta que dava para rua.
Ele perguntou por sua mãe, ao que o pai respondeu dizendo não saber o paradeiro.
Então, de pés descalços correu em direção ao portão, abriu-o e iniciou uma disparada sem rumo certo.
Corria, corria, não mais ao redor de sua casa, mas procurando por sua mãe.
Na primeira esquina, avistou-a de muito longe.
Ele era tão pequeno e seus pés estavam doídos, machucados pelos pedregulhos de uma via sem paviemtação.
Entretanto, decidiu que iria alcançar sua mãe. Pôs-se a correr mais. Correu, correu. Sua respiração já estava curta, suas perninhas principiavam uma espécie de cãibra.
Aproximando-se um pouco mais de sua mãe, começou a gritar para que o esperasse. No entanto, ela sequer virava para trás. E ele corria, corria, chorava e corria um pouco mais. Com o voz já um tanto enfraquecida ele empreendia gritos quase inaudíveis, verdadeiras súplicas. Queria ficar com sua mãe, queria poder segurar  sua mão.
Correu com o restinho de força que possuía e, então, finalmente alcançou-a.
Agarrou a mão morna e umidecida de lágrimas da mãe com força. Depois,  perguntou  por que ela não o  havia  esperado.
Escutou que não deveria estar ali e que melhor seria se jamais tivesse existido.
Aquelas palavras fizeram os pedregulhos do chão pinicarem nele com mais força. Pareciam cacos de vidro a causarem fissuras largas e  profundas, só que dessa vez em sua alma.Foi ela que sangrou.
Hoje o menino padece de hemorragia afetiva. Alguém pode suturar seu coração?

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