terça-feira, 28 de julho de 2015

O raso e o cogulo

No início da sua vida. Foi lá que tudo começou. Você teve suas ideias cortadas rente à sua subjetividade, sua criatividade. Foi rapado em sua individualidade. Por isso, hoje, busca neuroticamente por independência. Confunde-a com indiferença. Você crê que a autossuficiência está ligada a pouca ou nenhuma solicitação de ajuda. O nó do egoísmo não aceita laços com a generosidade, e, aqueles que não empatizam, solitários serão. Você é.
Você é liso, escorregadio. Não tem nervuras, vincos ou sulcos. Sua alma não tem as reentrâncias necessárias para que consiga identificar-se com quem quer que seja.
As bordas do seu cotidiano são baixas. Não há espaços para grandes ousadias. Se as bordas do seu prato existencial fossem um tanto mais altas, você exploraria mais a vida e por certo reconheceria as preciosidades que lhe cercam. Infelizmente, você nem percebe os tesouros que passam pela frente dos seus olhos.
Você é raso de sorrisos, raso de lágrimas, raso de expressividades. Seu coração é uma planície e nenhuma batalha dentro dele é travada. Você é travado!
Raso como soldado raso, você é milico da vida. Não eleva sua patente, pois falta sangue nos dutos que o ligam ao real. Você é quase irreal, você se afasta das ocorrências que humanizam. Você se sedimenta no silêncio.
Você é raso. Não nada, não mergulha, não respira, tampouco sufoca.
Você é raso. Eu sou cogulo.

Excedi, transbordei e lhe chamei para pular no abismo comigo; Cogulo sendo, contigo apenas coagulei.

3 comentários:

  1. Cortante, transformador. Consegui, talvez, tocar em teu lado passional: ficou algo colado em minhas mãos após a leitura.
    Li com tua última sugestão musical: morri do jeito que costumo apreciar!

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