sexta-feira, 8 de junho de 2012

Quieta

Na sexta-feira de temperatura polar que findou há poucos instantes, tive oportunidade de praticar uma das minhas modalidades preferidas de existir, como diz Stella Florence: Fiz silêncio.
Sim, eu passei praticamente o dia inteiro muda, ouvindo atentamente apenas o barulho assombroso que provém de mim.
Lembrei de muitas pessoas que por minha vida passaram, senti saudades de algumas que jamais retornarão. Repensei certas decisões. Dei o troco com meu silenciamento, aos desprezos que sinto vez por outra.
Faz relativamente pouco tempo que aprendi que calar é uma das maiores vinganças que um ser humano pode executar. Eni Orlandi já metralha há muito sobre o peso do silenciamento. Todavia, como bálsamo para alma, o poder da ausência dos discursos  muito lentamente foi sendo compreendido/apreendido por/em mim.
A experiência do vácuo no/do dizer só tomou forma prática em minha vida, depois que M. me ensinou a falar silenciando, mostrar escondendo e dizer não dizendo.
Provavelemente, ele jamais tenha ouvido algo sobre não-ditos, ditos, e outras nomenclaturas típicas de filósofos e analistas de discursos, porém, a forma como se movimentava por entre os vazios de palavras faladas e escritas é algo que sempre me quedou apaixonda.
Em meu estado atual, é deveras fácil lembrar das excentricidades comportamentais de M. Contudo, na época em que experimentava a lição prática de tudo aquilo que havia sofregamente lido e estudado, penei bastante. Foi uma dor necessária, que me trouxe a possibilidade de reflexão.Tudo culminando neste excerto que separei para uma gélida e medidativa sexta-feira.
Não quero mais machucar ninguém, por isso, à noite, as palavras voltaram a produzir som em mim. Abandonei minha reclusão, tomei um chá, comi biscoitos e tornei a permitir que os barulhos façam parte da sinfonia daquilo que me faz quem sou.

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