sábado, 14 de abril de 2012

Precisar sem querer

Quando estamos doentes precisamos de medicação, e se estamos adoecendo fazem-se necessárias 'medidas profiláticas', que é como a linguagem médica assim nomeia.
Já estive muito doente, e aos poucos e muito devagar mesmo, melhoro a cada instante. Entreanto, para que a cura seja plena, alguns cuidados devem ser observados atentamente. Geralmente, quando em estado moribundo, fazemos dietas alimentares rigorosas, deixamos de lado algumas atividades que mais nos dão prazer, e isso nos custa tanto não é verdade...Agora, sei que preciso ficar reestabelecida tanto orgânica como espiritualmente, então vou ter que partir. Não, eu não queria. Meu coração se ressente cada vez que me vem a certeza do deslocamento.
Verdade é que nem sempre aquilo que nos causa prazer, nos faz bem.
Amo meu Porto, meus amigos e as recordações que esta cidade me traz. Mas a tristeza que cada bairro, cada calçada e cada esquina como que aqui me impregnaram, causa uma asfixia de dor cá dentro.
Eu preciso ir e nem queria. Precisar definitivamente não é querer. Precisar e "ter de", precisar é falta de alternativas, precisar é mudança por contingência. Eu preciso.
E quando o ônibus atravessa a Av. Castelo Branco, sinto que já não posso mais permanecer por estas bandas um tempo mais. O Guaíba parece que reuniu todas as lágrimas que eu tenho, tanto as vertidas quanto as contidas. . Eu não queria, mas preciso, porque os motoristas apressados  me advertem que estou atrapalhando seu destino final. Eu interrompo o ritmo dos transeuntes nas ruas, eu escuto seus sotaques, já não estou mais em meu pedacinho de chão. Meu lar não é em lugar nenhum.
E quando o avião decola, eu deixo a dor gaúcha para trás com saudade e uma dor mundana  mais intensificada. E vejo a torre da Usina do Gasômetro se despedir de mim e ordenar do alto de seus tijolos que eu desapareça, tal como uivam entre ventos as árvores do Parque da Redenção.
Por que vocês não me querem mais? Por que até mesmo em meu lar urbano eu sou indesejada? Por que nem no que julguei ser "meu lugar" me adaptei?
Minha mãe não me quis e agora minha mãe maior também me manda embora. Eu queria ficar, mas preciso ir, porque precisar é mudança por contingência. O cosntrangimento que aqui causo não me deixa escolha.
E como diz o poeta: "Trago sozinho o verde do chimarrão, olho o cotidiano, sei que vou embora. Nunca mais, nunca mais..."

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