domingo, 18 de julho de 2010

Il était une fois....

Era uma vez, uma menina perdida no meio da escuridão. Ela abria seus olhos ao máximo tentanto enxergar alguma coisa, porém nada avistava. Seus braços tateavam o vazio. Seus pés pisavam um chão áspero e pedregoso. A todo instante, as lascas beliscavam sua pele delicada e macia.
Ela caminhava, caminhava, mas não conseguia entender o que se passava, tão pouco para onde se dirigia. Estava rodeada por um breu absoluto. Não podia atinar nem mesmo se estava vestida ou despida. Entretanto, algo a fazia continuar. Era como se a empurrasse. E ela estupidamente, seguia...
De repente, notou muito ao longe, um pequenino e quase imperceptível ponto luminoso. Era o que esperava. Motivou-se e pôs-se a perseguí-lo.
Observou que a claridade aumentava, à medida que do ponto se aproximava. Deu por si de que estava nua. Quase que instantâneamente, um vento malicioso perpassou seu corpinho frágil. Abruptamente, visualizou não mais um organismo infantil, mas um corpo de mulher-fêmea, feito assim por corpos que ela desconhecia. Corpos-machos.
Sentiu frio...Enlaçou os braços em torno de si. Continuou caminhando na direção da luz. E dessa forma, foi enxergando sua própria anatomia. Suas pernas exibiam hematomas, semelhantes aos de quem lutou à exaustão. Olhou seu ventre e viu que ele possuía marcas de queimaduras profundas. A pele havia se tornado enrugada e escura. Já dentro dela, coisas se remexiam. Era como se a luz estivesse lhe envelhecendo.
Nesse momento parou de caminhar. Pensou que estava buscando alguma coisa que talvez, estivesse acabando com sua beleza e consigo.
Sentou-se no chão. Os pedregulhos pinicavam a pele sensível de suas nádegas. Baixou a fronte e a escondeu com as mãos. Ficou esperando algo que nem ela mesma sabia o quê era.
Então, a luz que encontrava-se ainda relativamente distante, de súbito, foi ficando cada vez mais perto dela. Mais perto, mais perto, mais perto. FIAT LUX!
Houve uma claridade insuportável. Seus pobres olhos não conseguiam mais abrir-se. Ficou imóvel e logo o clarão tragou-lhe.
Depois, fez-se nova e eternamente a escuridão.

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