segunda-feira, 7 de junho de 2010

Pedro

Ele teve uma passagem muito breve por minha vida. Nunca entendi ao certo quem era aquele sujeito. Falava pouco, respondia apenas o essencial, jamais deixava transparecer um milímetro de seu interior. Seu cuidado para com esse aspecto beirava a obsessão. Gestual contido e olhar profundo. Nunca o vi sorrir. Tais são algumas das características que dele comigo guardei.
Durante certo tempo, tentei decifrá-lo. Logo percebi que minhas técnicas tacanhas e amadoras seriam insuficientes. Posto que seu laconismo representasse para mim um desafio, embrenhei-me em todas as suas vírgulas, reticências, todos os seus muxoxos, seu vestir..., tudo nele tornou-se fascinante!
Mas ele era sagaz... Muito mais do que eu imaginara, mais do que qualquer outro sujeito que conhecera até então. E, em meio à minha "investigação sherlockiana", descobri (tristemente em meu caso), que havia por ele me apaixonado.
Leitores, embora eu tenha edificado minha paixão sobre uma rocha, essa “stone” era mal fixada, e ainda por cima repousava sobre um terreno movediço. Tudo nele semelhava ser firme, mas era apenas e tão somente aparência. Variações de humor e de amor eram nele frequentes. Contudo, seu nome não consistia-se por ser uma obra do destino. Ele era de fato uma pedra. Não sorrir era só uma dentre suas muitas características de amorfismo. Não chorava, não vibrava, não gozava, enfim, não se emocionava. Um ser indiferente, dono de uma frieza marmórea e de uma dureza cascalhar.
De semblante admirável, Pedro aliava a sua beleza um toque de tristeza. Creio que isso o tornava ainda mais lindo. Mas sua crueldade era maior que sua formosura. Seu pouco caso destoava em seu comportamento. Nada, absolutamente nada o enternecia. E eu fui padecendo em suas mãos.
Ele era como que um "vampiro de emoções". Sugou tudo que de positivo em mim existia, todos meus estímulos se perderam. De repente, me peguei definhando emocionalmente.
Pedro era como uma droga para mim. Minha PEDRA DE CRACK. Algo que eu necessitava desesperadamente. E quanto mais o amava, mais sofria. Suas ausências e seus cruéis silêncios geravam verdadeiras “crises de abstinência” em minha vida. Meus amigos não compreendiam a razão daquele meu “amor tresloucado”.
Um dia, em visível agonia, decidi abolir meu vício. Não queria mais me machucar com aquela PEDRA que cruzara o meu caminho. E foi assim que parti em milhares de pedaços aquela concreção calcária que se criou no meu íntimo. Essa atitude gerou em mim cólicas terríveis. Contorci-me inúmeras vezes de dor com meu “cálculo no coração”. Mas esse padecimento teve seu final.
Compreendi que a solidez, se for extrema, pode ser um mal e que flutuar, às vezes, é delicioso. Há de se ter medida em tudo, em todas as nossas vivências, em todas as nossas relações.
Fernando Pessoa costumava afirmar que juntava suas “pedras” para ao fim e ao cabo construir um castelo com elas. Eu interpreto essa afirmação como sendo de alguém que procurou ver o lado positivo todo tempo, mesmo quando os acontecimentos lhe pareceram duros demais. Mas tome cuidado, prezado leitor: Não transforme seu castelo em uma fortaleza. Não construa muros intransponíveis em torno de si. Leia a vida pelas entrelinhas, sem exageros. Se os sintomas de inflexibilidade persistirem, use medicação de AMOR prescrita pelos CORAÇÕES MOLES.

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