terça-feira, 24 de março de 2015

Perspicácia

Inicio esse texto com uma constatação: Sou muito mais inteligente do que sondava ser. Ah!
Já posso antever os rostos contraindo-se em expressões que, vão do desprezo ao nojo total, mas no decorrer dessa prosa, duvido que não me deem um cadinho de razão.
Há muito tempo, vivo em um mundo paralelo,solitário, metáfora de uma bolha, onde só eu consigo e posso entrar. Desenvolvi o costume (nem tão estranho assim) de observar as pessoas e as atitudes que tomam. Faço isso permanentemente. Talvez, o lado curioso da história que vou lhes contar, seja eu observar com obsessão, todos aqueles que me interessam. E o caso se dá  desde os meus seis ou sete anos de idade (não imagino muitas crianças tendo esses hábitos).
Pois bem, logo cedo em minha pueril existência, atinei com comportamentos duvidosos, interesseiros e em grande parte egoístas. Estes comportamentos provinham de pessoas muito próximas, tios, primos,pai e etc. Como criança de senso de lealdade e justiça aguçado, pus-me a advertir os que amava (e eram poucos), temendo vê-los sofrer. Eu fazia isso movida tão somente pelo amor.Cansei de ver, por exemplo, minha mãe passar as tardes de domingo chorando por ter sido machucada por as pessoas que ela mais amava. Inúmeras vezes, eu tentei avisá-la de que tais pessoas não eram dignas dos seus sentimentos. Mas o que acham que aconteceu? Obviamente, ela além de não me prestar a mínima atenção,ainda mandava que não interferisse no mundo dos adultos. Depois de inúmeras advertências,xingamentos, chineladas e puxões de orelha, abandonei meu intento.
Aprendi a me defender muito cedo. Nunca deixei que outras crianças abusassem de mim. Eu era astuta.ao menor gesto,punha-me de prontidão contra os ataques dos inimigos. Infelizmente, sempre foi assim que enxerguei a vida: Um campo minado passível de ataques iminentes.
Não perdi essa neurótica mania  de observar os que admiro.E, cá de fora (ou cá de dentro de minha bolha), eu vejo tudo o que está acontecendo. Algumas vezes, as pessoas e suas reações são tão patentes que apenas aguardo o desfecho da história. Não gostaria de acertar repetidas vezes minhas previsões, não queria que as existências fossem tão axiomáticas, mas...para a maioria, desatenta dos outros e excessivamente voltada a si, a vida é mais misteriosa do que para mim.
Por certo que minha lucidez atrapalhou minha inocência. Deixei a infância cedo. Minha capacidade de entrega e de amor talvez tenha se reduzido, não sei... Pena! Lamento por mim, pois, além de certa secura de alma, meus olhos também foram lesados do brilho que só uma criança pode ter nos seus.
Durante o curto tempo em que me deixei levar pelo delírio de acreditar na pureza de sentimentos, raras vezes saí de tais experiências sem ferimentos graves. Não desisti da luta, mas mudei o direcionamento das minhas emoções.Elas nunca deixaram de existir,mas a forma como irrompem à realidade, é bem outra hoje em dia.
Aprendi uma lição valiosa, a de que a claridade excessiva também nos leva a cegueira. Então, o conselho é: Desconfie do que lhe parece seguro,desconfie do que surge fácil. Exija que a história tenha uma trajetória, não aceite atalhos. Atalhos empobrecem o caminho da vida e a plenitude que ela traz consigo. Viva por partes, não apresse as etapas, conserve o siso. Entretanto,quando precisar acelerar, acelere, e se precisar acalmar, acalme. A intuição é o coração falando disfarçado de bom-senso. Não desista, mas tenha cautela. O coração nunca se cala.

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