sexta-feira, 20 de março de 2015

Gentileza que não gera gentileza

E quando a gentileza não gera gentileza? E quando o esforço parece ser em vão?
Você planeja,prepara,apresenta e nem sequer é vista. Você se sente como um animadora de platéia, como uma boba-da-corte. Faz toda sorte de malabarismos - stricto e latu sensu - e o resultado é vazio.
Sua melhor roupa não faz diferença, e aquela sua franja cultivada no laqué, perfeita para um selfie, jamais será notada por quem você mais desejava que observasse. É a aridez afetiva, parcimônia de elogios. Quase dá para lembrar do dia em que a estiagem amorosa começou.
A vida é estranha. A gente pensa que essas são situações de folhetim, algo que não vai acontecer conosco. Não conseguimos acreditar que um ser humano possua tamanha crueldade, parece que a indiferença por nós sentida é um erro nosso de percepção.
O outro nos faz crer que nosso maior tesouro é nosso maior defeito. Mais curioso ainda é pensar que no início da relação, era exatamente essa suposta "intensidade" o que mais perfeita lhe tornava aos olhos dele.
Agora, entretanto, você parece uma caricatura do que foi. Tanto na visão dele,quanto na sua. Aos poucos foi murchando, empobrecendo seu espírito, sentindo-se minguar. Não houve a empatia suficiente para que notasse que existe sempre a necessidade de se regar a flor da alma. E mesmo tendo visto, ainda que só de vez em quando, ignorou, pois estava tranquilo em sua posição de ser amado.
Tornou-se robusto, cônscio de si. Seguro de seu tamanho e de suas atitudes. Tanta confiança trouxe a reboque incontestável rigidez. À medida que você aumentava a devoção, ele, de maneira inversamente proporcional, pisava no acelerador da presunção. E foi pisando cada vez mais fundo, confiando que o motor aguentaria o tranco. Não aguentou.
E então, depois de meses de ameaças, desconsiderações e demonstrações públicas de egoísmo, você desistiu. É isso mesmo,você jogou a toalha. Ficou pesado demais carregar vocês dois, um casal que só existia na sua cabeça.
Mas sua saída, como era de se prever, trouxe dores. Seguiram-se lágrimas, insônia, gastrite, cefaleias e outras tantas manifestações.  Todo o nosso corpo chora, ao ter de se despedir daquilo que um dia acreditamos ser o que de melhor poderia ter nos acontecido.
Seguiu-se um enorme vácuo. Silêncio que nada tem de sublime ou poético. Mas seguiu também a vida. Dias e dias e dias que se amontoaram sem aparente valor ou sentido. De repente, sem qualquer forma de se precisar o exato momento, tudo mudou. Você deixou a letargia no passado, olhou  no espelho e percebeu que o rubor, sinonímico da vida, voltou ao seu rosto. Você vestiu aquela mesma roupa que comprou para agradá-lo e não foi notada, só que agora, todos viram e elogiaram.
Novamente seu sorriso se abriu como rosa, não doi mais acordar pela manhã. Seu cabelo cresceu, e os cachos principiaram reaparecer. Você alisava-os para ele, mas agora quer que os cachos vicejem, pois não que não interessa mais esconder quem realmente é. Nem dos outros e nem de você. Logo, cria uma playlist com as músicas que havia deixado de ouvir, porque ele as deplorava. Aquela opinião já não importa mais.
A cura total chega no momento em que além do retorno da sua alegria, uma insondável indiferença quanto a ele acontece. Nada mais do que representava faz algum sentido, nem suas músicas, nem seus hobbies, nem suas opiniões, nada. Você não tem mais revolta no coração, não deseja que ele se dê mal ou bem, não deseja absolutamente nada. Acabou.
Foi uma grande experiência, uma jornada que seguiu todo um percurso,mas que agora, ficou esquecida em alguma gaveta da sua memória.
A melhor parte de tudo isso, talvez seja poder ter se reencontrado e agora tecer essas palavras como fecho de um ciclo. Bora lá, de novo!

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