quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O fim do amor

Será possível esquecer um grande amor, mesmo que não sobreviva mais o amor?
Mais fortes que o desejo de esquecer são as transformações físicas que se abatem sobre quem terminou um grande amor, coração batendo a mil, adrenalina, borboletas no estômago.
Os médicos dizem que quem terminou um grande amor tem de reforçar as emoções negativas ligadas à pessoa e mudar o foco.
Em suma, dá para traduzir, para se esquecer um grande amor e expulsá-lo das nossas entranhas só existe uma receita: arranjar um outro grande amor.
Caso contrário, vai se repetir o ramerrão.
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E diz mais um famoso neurologista: ficar só, não amar mais, não ajuda a superar o caso.
Vejam que mão de obra: seu amor pode ter azedado, mas as lembranças negativas permanecem e fazem disparar as reações físicas adversas. Ou seja, o amor perdido permanece no ser da gente, ainda que as lembranças últimas que se tenha dele sejam negativas.
Porque as impressões do namoro permanecem inalteradas.
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Quando se acaba um grande amor, as impressões residuais, inclusive as manifestações físicas delas decorrentes, sequestram os pensamentos, não precisa que a gente se recorde do ex, o córtex pré-frontal traz à tona as lembranças da relação perdida, mesmo que a pessoa não faça mais parte da sua vida.
É tão grande o dano causado a uma pessoa que terminou uma relação de amor, que dificilmente ele se apagará.
O que remete ao risco que todo grande amor encerra: o do fim. Encerrar um caso de amor, portanto, não é dar fim à dor. É dar trânsito a ela com o distanciamento.
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O tempo, pois, não apaga a lembrança de um grande amor. Essa recordação incômoda ou cruciante é como os vícios, não se pode livrar-se deles.
Por isso é que às vezes constatamos pessoas que praticamente tiveram suas vidas tortas ao findarem um relacionamento: por mais que dissimulem, não é difícil notar que a vida para elas se acabou.
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Por onde for alguém que teve um grande amor interrompido, a lembrança dolorida do caso irá também trilhando as mesmas ruas.
Um grande amor perdido se cola ao corpo, senão como tatuagem, então como cicatriz.
É impossível apagar a sua marca. Porque ele deixou vestígios irremovíveis.
Se não arranjar um outro grande amor, você será para sempre um ser arrastado e inútil.
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Pressentindo isso é que muitas pessoas revelam um temor, que chega quase à ojeriza, em se apaixonarem: sabiamente intuem que o amor pode terminar um dia e será impossível sustentar a dor da lembrança dele, repito, mesmo que já não se ame mais a outra pessoa.
É o tal de medo do amor, medo do envolvimento.
Não amar, por incrível que pareça, é melhor do que ter o coração dilacerado pela separação amorosa.

Paulo Sant'Anna


* Texto publicado em 12/06/2010

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