domingo, 9 de outubro de 2011

Pai

É estranho, mas pouquíssimas vezes lembro de relatar algo sobre meu pai, seja falando ou por escrito. Talvez por ter perdido contato com ele muito cedo. Nossa troca acabou de repente, seus olhares muito diferentes dos meus fizeram com que a distância entre nós se tornasse impossível de ser encurtada.
Não é consciente o esquecimento de meu pai em minha vida, ele está presente em todos os meus dias, porém, é como se não existisse. Não consigo nem sequer dizer que o amo. Tudo que a ele se relaciona é vago, enevoado e confuso para mim. Mas acho que gosto muito dele, apesar de todas estas constatações.
Durante um tempo considerável eu o odiei. Atualmente, tenho pena. Ele já não é mais grande, não é mais tão falante, não é tão sofisticado...Acho que o pai que eu gostei morreu faz muito! Entretanto, sinto que ainda posso amar aquele homenzinho frágil, enrrugado e careca.
E foi motivada por esta doçura que hoje, quando a tempestade se avizinhava, me sentei a seu lado. Ele estava em sua pequena cadeira, sentado em frente à porta que aberta deixava ver tudo e nada. Estava ali, olhando para o nada, pensando em nada, falando nada. De conjunto nadifiquei a seu lado por alguns momentos. Pensei que não conhecia ao certo aquele homem, mas afinal de contas, por contribuição sua eu existia. Permaneci calada. Ele também. Depois, me levantei, toquei em seu ombro e ele repondeu apenas com um leve meneio de cabeça. Nada mais.

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