quarta-feira, 11 de maio de 2011

A menina das margaridas no cabelo e todas as outras...

Estranho. Eu ainda me sinto "a menina das margaridas no cabelo", a companheira divertida de idéias absolutamente geniais, a mulher mais sexy já conhecida, a escrachada que diz palavrões a todo instante, e por isso mesmo adorável, a torcedora companheira e companhia para assistir aos jogos do Sport Club Internacional de Porto Alegre, a Brooke Shields temporã, a eclética admiradora de músicas desconhecidas, a garota dos roqueiros-cabeludos, a colegial dos desejos mais recônditos do teu sexo, a parceira de viagens, a admiradora da Arte Vintage, de Andy Wharol, David Bowie e Rita Lee, a desvarirada-intelectualizada-escravizada por ti...
Estranho, eu ainda sou esta menina que tu enxergavas com as margaridas no cabelo cheinho de cachos e ondulações rebeldes, ainda estou aqui. O que mudou? Muito!
Eu sempre pensei que as pessoas não olhavam as mesmas coisas da mesma forma. O meu azul, em teus olhos, talvez fosse verde, ou quem sabe violeta? Vai saber. Não me esqueço que um dia comentaste indignado sobre teu suposto daltonismo. Vai saber. Tua miopia - mais uma de tuas patologias oftálmicas - não me parecia influenciar na significação daquilo que tu enxergavas. Vai saber.
O que VEJO agora é que muitas coisas mudaram. Não foi  só o tempo que se impôs. Foi mais que isso. Enxergamos a vida diferententemente e isso nos afastou em definitivo. Meu Woodstock já era! Ainda tenho margaridas em meu cabelo, e meus cachos ruivos e eu ainda somos pra lá de rebeldes, porém, meu destino hoje é outro.
Busco os entardeceres calmos do outono de minha vida. Minha febre primaveril arrefeceu. Ainda sinto espasmos de prazer com um acorde, um toque suave, uma palavra solerte. Mas minha calça jeans não é mais modelo "boca-de sino", hoje prefiro os cortes ajustados ao meu corpo, mais contemporâneos e menos saudosistas. É verdade...até neste aspecto precisei sacudir meus ácaros. De nada adiantaria  permanecer estagnada em 1968, até por que naquele remoto ano eu ainda nem havia sido concebida.
Sim. Eu avancei de 1974 até aqui. Não pulei as etapas, mas por mais doloroso que seja crescer, eu deixei pra trás a garotinha epilética, a menina introvertida, a jovem problemática e até mesmo a leitora contumaz! Todas elas se foram. O mais agradável nisso tudo, é que minhas saudades se restringem a pequenos instantes de melancolia. Eles vem e vão como um sopro suave, não fizeram das minhas lembranças uma dor crônica.
Com isso não me neguei a viver. Não me neguei a crescer.
Sabe de uma coisa, "garoto de Woodstock"? Ser adulto não é tão ruim assim. Ter trinta ou quarenta anos não significa nenhuma tragédia e os reumatismos podem ser mote para um papo bastante animado. Se você soubesse quantos prazeres está deixando de viver diariamente...Tuas dores aumentam e teu reumatismo não é ósseo, é de alma. Cada negação tua sonega de ti uma fruição.
Pensa nisso, mas pensa de verdade, pra valer. Não foge de ti mesmo, é bom saber quem é esse cara aí do reflexo no espelho. É bom visualizar com os olhos dos outros o que os nossos, às vezes, podem não captar!
Bj

Um comentário: