O que acontecia a cada um de nós
naquele remoto ano de 1985. Éramos todos desconhecidos, corpos e almas que anos
mais tarde se entrecruzariam, se completariam e se separariam. Jamais
imaginaríamos que alguns dias ou meses de nossas existências seriam
preponderantes uns para com os outros. Éramos tolos, parvos, almas incólumes.
Fico nos imaginando passando uns
pelos outros em alguma grande avenida, ainda inocentes da vida, do amor e da dor.
E já faz tanto tempo... Quando alguém diz sua data de nascimento meu pensamento
inevitavelmente me reporta àquele momento de minha existência, se fosse já vida
materializada humanamente.
Não pensava no amor, apenas
amava. Não pensava na dor, apenas sentia. Eu pensava em como seria o porvir.
Estes “pressentimentos” sempre andaram junto a mim. Desde muito jovem, perdia
horas imaginando como seria meu futuro, como eu seria. E sentia medo. Queria
estancar a disparada frenética dos dias que diante de mim desfilavam, dos meses
somando-se e aumentando mais e mais minha angústia de estar e ser. Estar aonde
e ser o quê? E como eu sofria, e como meus momentos de sabor de infância se
escasseavam com essa minha sofreguidão por decifrar o amanhã.
Agora, quando escuto este acorde
tão familiar, que me leva como um jato ao ano de 1985 é como se estivesse lá e
aqui ao mesmo tempo. Hoje e ontem fundidos dentro do meu coração que nunca
soube se havia crescido ou permanecido criança.
E nós continuamos vivos, cada um
em seu círculo de feitiços próprio. Nossas magias já não são mais compatíveis.
Mas eu capturei muito de 1962, 1969, 1970, 1972, 1974, 1975... 1985, 2012. Eu
coloquei em mim cada pedacinho destes anos longínquos através de seres que
comigo completaram e decifram minha razão de aqui estar – ainda.
E quando meu sorriso surge, trago
com ele os meses de agosto, março, abril, outubro, trago com meu suspiro as
delícias dos anos que se foram. Ainda que sinta saudades, os humanos destas
épocas por aí permanecem. Nas calçadas, avenidas, nos meses que se seguem.
Pois cada novo dia é novo para aqueles que aqui estão e meus sabores de outrora
certamente estão a satisfazer os coraçõezinhos jovens, tolos, parvos, as almas
incólumes. Como um dia foi minh’alma.
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