Havia diversos
preparativos para a grande festa popular, entretanto, o que mais
chamou minha atenção foram os cataventos prateados. Eles produziam
uma música interessante naquela noite de verão com temperatura amena. Por alguns instantes, ouvi somente aquele som, que soprava e
empurrava minhas tristezas para algum lugar bem longe de onde eu me
encontrava. Aqueles singelos brinquedos de papel tiveram o poder de
varrer momentaneamente minha identidade de chagas emocionais
crônicas.
Segurei a mão dele e
continuei caminhando. Eu era de novo aquela menina de olhar
estupefato diante do brilho dos papéis prateados, a mesma que
contemplou maravilhada a árvore de natal de papel resplandescente,
julgando-se a mais feliz das criaturas. Era, então, um privilégio
poder enxergar o que a vida ali me oferecia e aquilo que ainda
ofereceria. Assim eu, como um pueril serzinho, cria.
Onde estará aquela
criança ? Talvez, escondida no quarto de sua mãe, chorando ao
lado do radiozinho de ondas curtas. Quem sabe ela esteja encolhida entre
o cesto de roupas para lavar e a parede, em um cantinho, de olhos
fechados, esperando que a vida jamais siga, que o futuro não exista,
para que assim ela possa permanecer escondida !
Atravessamos a avenida.
Cataventos dos dois lados. Crianças e adultos sorridentes, todos
cônscios de que a existência compensa qualquer sofrimento. Mas,
desta vez, nem a esperança em forma de brisa foi capaz de secar a
lágrima que se formou no cantinho do meu olho. Ironicamente, no
mesmo instante, lembrei da lágrima que costuma existir na maquiagem
do palhaço. O palhaço tem algo de triste em sua alegria. Devo ser
um tanto palhaça, pois, apesar do sorriso eu estava chorando. E
entre um e outro sentimento soltei a mão dele.
Criança perdida olha
para os dois lados. Criança perdida chora. Os adultos olham a
criança perdida e dela sentem pena.
Percebi que algumas
pessoas olhavam para mim com perplexidade, sem saber a razão daquela
inapropriada emoção em um lugar repleto de euforia.
De repente, ele me
resgatou, tomou minha mão e me tirou do meio daquela gente estranha.
Exortou-me, tal como quando se repreende uma criança quando solta
das mãos de seus pais.
Meu coração se acalmou,
mas a dor não. A lágrima secou, mas a dor não. Voltei para casa,
mas a dor não aliviou.
Aos menos eu consegui
trazer um dos cataventos prateados como lembrança. Às vezes, quando
a dor sufoca, eu sopro meu catavento e escuto a música que
ele entoa, igualzinha a música da minha alma.
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