Antes de P e B sempre se usa M
Eu não tenho muito. De um pretenso enxoval – igual ao que as
moçoilas possuíam em décadas passadas - tudo que somo são dois panos de
cozinha. Não sou uma mulher de significativas prendas domésticas, cozinho o básico
necessário e indispensável, mas não arrisco grandes produções culinárias.
Eu não sei criar um lar repleto de aconchego e acho que
sequer daria conta de administrar um. Não uso sabão neutro nas roupas íntimas,
gosto de patchwork, entretanto, jamais cheguei perto de uma máquina de costura.
Eu não chamo minhas amigas de “amadas”, não leio horóscopo,
não posto frases de autoajuda na internet. Gosto de músicas sorumbáticas e
janelas fechadas. Meu roupeiro cheira a mofo e meu gato não ronrona quando me
vê.
Mas eu tenho um coração que sabe amar...
Apesar de minha vida ser cheia de orações assindéticas,
preciso de conjunções, já que sou frequentemente desconjuntada. Acreditei que me ligaria a você. Hoje, percebo
meu erro. Mas, veja bem...
Eu também gosto de pintura e até sei pintar telas e tecidos.
Também poderia ter aquarelado sua vida para além de uma existência monocromática.
Você nunca viu meus bordados em pedrarias, nunca provou meu bolo com cobertura
de açúcar glaceado. Eu teria sido brilhante e doce em sua companhia, mas não houve tempo. Fiquei
cheia de projetos e minhas tintas de pátina secaram... Só o amor que nutro por você ainda
umedece meu rosto.
Talvez você tivesse me amado se eu não soubesse que antes de
P e B se usa M. Meu tropeço foi pronominal – eu sei que confundi retos com
oblíquos, mas entenda que minha visão abrangia mais do que um lapso puramente gramatical. Sei que deveria ter errado outra regra da Língua Portuguesa, contudo, errei em meu discurso
e desconstruí nosso sentimento.
Fiquei dando adeus para você, vendo seu carro se afastar
devagar. Você partiu pateticamente.
Depois, os panos de cozinha e bordados sobrepujaram toda e qualquer poesia que eu escrevesse e, afinal, para que servem versos em nossa vida real não é mesmo??? As toalhas e colchas secam, aquecem e protegem do frio.
Depois, os panos de cozinha e bordados sobrepujaram toda e qualquer poesia que eu escrevesse e, afinal, para que servem versos em nossa vida real não é mesmo??? As toalhas e colchas secam, aquecem e protegem do frio.
Em resumo, você foi razoável consigo. Preferiu o acolhimento, o calor - quase como uma metáfora materna, um retorno ao abrigo uterino.
Eu fui tão somente o vento frio que cortou com palavras mal
colocadas, todas as expectativas de um amor doce e envolvente.
Mas acredite... essas palavras, ainda que representem tudo que eu possuo, são escritas e a você ofertadas como prova de que meu sentimento existe, em detrimento de tudo possa
ser medido.
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