sexta-feira, 26 de maio de 2023

 Já faz tanto tempo que te abandonei, mas hoje, depois de um sonho cheio de coincidências, resolvi postar ao menos uma melodia que descreve bem minha sensação.

Voilà!



sábado, 23 de dezembro de 2017

Enganos

E cá estamos todos no findar de mais um ano. Certamente houve muito de positivo, mas houve também enganos. Você foi um deles.
Já não lamento mais, pois foi meu o equívoco. Você se mostrou.
Creio que, em certa medida, todos nós temos um costume infame de enxergar nas outras pessoas, apenas aquilo que nos apraz. Eu não fujo desta regra. Só vi o que me interessava em você, e ainda assim, vi errado. 
O que existia era um garoto mimado com tudo que pode advir de tal característica....Poderia ter doído se isso fosse inédito para mim. Infelizmente não é.
O  lado bom desta historieta é que não cheguei a me ferir. Adquiri imunidade contra seres de sentimentos rasteiros. Apenas, sigo lamentando o tempo perdido. Contudo, agradeço a você por reforçar meus conhecimentos e pressentimentos. Lá no fundo, sempre intuí que você não valia meu esforço. E que venham outros aprendizados.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Texto da minha conterrânea Mari Messias para o "Lugar de Mulher" - Indagação pertinente

Durante boa parte da vida lidei com a ideia de que minha grande redenção só viria pelo
perdão. Porque é preciso perdoar estupradores, agressores, manipuladores, torturadores,
mentirosos, assediadores, traidores. Todos os defeitos dos homens, toda a violência misógina.
A única forma de viver com isso é perdoando. Perdoando e superando. Mas será?
Quero dizer, sei que para algumas mulheres é assim que funciona, mas não pra mim.
Eu nunca me senti mais forte tentando pensar de maneira elevada em misóginos vaidosos.
A demanda por perdoar perdoar perdoar é, tantas vezes, cruel e inumana.
E mais, essa demanda também é uma reafirmação da feminilidade, que enfraquece e fragiliza mulheres para nos manter em nosso lugar, o de cuidar e aceitar homens, sempre perdoando e superando suas culpas. E mais, toda essa cultura de perdão vem apoiada no conceito de “superar”, só que algumas coisas deixam traços.
Assim como eu sempre vou sentir algum tipo de amor por alguém com quem me relacionei e amei muito, também tenho experiências ruins que deixaram lembranças.
A vida é formada por experiências e garanto que todas as mulheres do mundo preferiam não ter nenhuma vivência violenta e só manter traços agradáveis do passado, apenas não é o caso.
E não é o caso porque vivemos em uma sociedade misógina, não porque escolhemos assim.
Daí que esse papo de perdoar e superar, além de ser uma forma de culpabilizar a vítima, ainda é um jeito bastante cruel de nos simplificar.

Pseudo-espiritualidade fez do perdão um marcador de virtude pessoal.
Se tu perdoa, então é iluminado (…) Essa atitude ignora que a escolha por não perdoar pode vir de um lugar de força e pode representar uma resposta legítima para as ações e o lugar de um agressor na sociedade (…)
O verdadeiro perdão é uma realização, mas negar a validade de outros caminhos de cura minimiza a
verdade e apaga outras formas igualmente autênticas de seguir adiante.

Toda vez que alguém me diz que devo superar e perdoar o que eu ouço é uma pessoa me dizendo
que eu devo apagar uma parte do meu trajeto de vida, só que isso não rola e está longe de ser algo
saudável.
Mas toda vez que alguém me diz que devo superar e perdoar também sei que só eu
sofro essa cobrança, que quem praticou a violência, como é comum, saiu ileso do que impôs.
Sem traumas e sem cobranças por perdão e superação. E eu não posso concordar com isso.

sábado, 1 de julho de 2017

Gaslighting et al.

Gaslighting

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ingrid Bergman no filme Gaslight de 1944
Gaslighting ou gas-lighting[1] é uma forma de abuso psicológico no qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memóriapercepção e sanidade.[2] Casos de gaslighting podem variar da simples negação por parte do agressor de que incidentes abusivos anteriores já ocorreram, até a realização de eventos bizarros pelo abusador com a intenção de desorientar a vítima.
O termo deve a sua origem à peça teatral Gas Light e às suas adaptações para o cinema, quando então a palavra popularizou-se. O termo também tem sido utilizado na literatura clínica.[3][4]

sexta-feira, 31 de março de 2017

Ensaios



"Pintar-se a si mesmo é  pintar algo que adquire uma figura a cada instante e que  não tem consistência.Ora, os traços de minha pintura não se extraviam, embora mudem e se diversifiquem. O mundo não é mais do que uma balança perene(...) Não consigo fixar meu objeto. Ele vai confuso e cambaleante, com uma embriaguez natural. Não pinto o ser. Pinto a paisagem (...). É preciso ajustar minha história ao momento. Daqui a pouco poderei mudar, não só de fortuna, mas também de intenção. Esse (livro) é um registro de acontecimentos diversos e mutáveis e de pensamentos indecisos e,se calhar, opostos: ou porque eu seja outro eu, ou porque capte os objetos por outras circunstâncias e considerações. Seja como for,talvez me contradiga; mas, como dizia Dêmades, não contradigo a verdade".

Montagne
Essais

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Os diálogos inexistentes - por Ivan Martins

A gente lida todos os dias com situações que vão afetar o resto da nossa vida, armados com limitada inteligência, pouca experiência e o nosso temperamento, que tanto ajuda quanto atrapalha. Sempre sob pressão do tempo.
Ninguém nos dá meia hora para reagir a um insulto ou responder a uma pergunta simples: você me ama? A resposta tem de vir na hora, precisa e certeira, ou adeus, pode esquecer. É duro tomar decisões com a realidade em movimento, mas é isso que nos cabe.
Por causa da pressa e do improviso, sinto que a minha vida é uma orgia de conversas inacabadas.
Outro dia, faz pouco, terminou um grande amor, e ainda acho que não disse tudo, que não expliquei o suficiente. Todos os dias me pego conversando com quem passou pela minha vida sem ouvir a frase verdadeira, o pedido sincero de desculpas, a confissão absoluta, a declaração arrebatada, a ironia cortante, o cala-boca contumaz.
Os diálogos inexistentes me perseguem como uma matilha de cachorros de rua.
Eu precisava dizer coisas que não tivera coragem ou perspicácia de dizer ao seu tempo. E as dizia. Às vezes, no meio de um sonho, ainda digo. Até acordado penso em frases poderosas que refariam fatos e removeriam o tempo e os sentimentos. Frases que nunca serão ditas
No interior das relações amorosas, ocorre o contrário: o silêncio nos consome. As frases que não são ditas se acumulam e impedem a circulação dos sentimentos. As pessoas se deitam lado a lado, caladas, noite após noite, cheias de queixas e ressentimentos. As manchas de silêncio tornam a relação irrespirável.
É preciso falar, portanto. É preciso explicar, corrigir, alertar, reclamar, exigir. Soluçar, também. As conversas nos salvam de nós mesmos.
Morro de medo das pessoas que andam pelas ruas falando sozinhas. É como se as coisas não ditas tivessem se apossado delas. Algumas gritam nos viadutos na direção dos carros. Outras falam baixinho, numa espécie de monólogo delicado. Todas conversam, contam, argumentam com alguém que não está mais lá, mas segue presente de alguma forma. A mente dos malucos está presa aos diálogos e decisões passados.
Podemos lidar apenas com o que já passou. A gente vive, erra, pensa e (quem sabe?) aprende a não se afogar novamente nas palavras: as ditas e as não ditas.